Sinopse
A história de três amigos que o tempo não separou.
Criados numa aldeia perdida no interior, rumaram todos a Lisboa
para continuarem os estudos.
Os amigos foram todos acompanhar Maria ao funeral do pai.
Carlos é um homem marcado pela infância, tinha um segredo que
jamais poderia contar. Como pessoa integra que era iria guardar o segredo a
vida inteira.
“- Perdão, quem devia
pedir perdão, não era eu!
- Então conta-me, por
favor, conta-me!
- Desculpa mas não
consigo, será um segredo que é só meu, não o posso partilhar com ninguém.
Ninguém compreenderia, é horrível demais.”
Primeiro
Capítulo
Lá iam eles estrada fora, 120
à hora, directos à terra que os viu nascer.
Eram amigos desde que
nasceram, frequentaram a mesma escola, o secundário e o liceu. Separaram-se
quando rumaram à faculdade. Tinham hoje 35 anos.
À 17 anos que deixaram
aquela terra pequenina, perdida no meio do nada.
Maria era hoje uma bem
sucedida especialista de marketing e publicidade, solteira, bonita, alta,
elegante, com um cabelo louro cor da espiga e uns olhos verdes cor do mar, a
sua pele brilhante e lisa, o que se pode dizer uma mulher perfeita, e como não
poderia deixar de ser, tinha muitos pretendentes, mas nenhum conseguia “roubar”
o seu coração. Por vezes lá tinha casos (affair) de semanas, mas nada mais que
isso. Vivia consigo a sua irmã Diana de 20 anos que andava em Relações Públicas.
João era um boémio que arrasava
corações. Era professor na faculdade e surfista, tinha todas as alunas de
beicinho por ele. Não faltava a nenhuma festa dada na faculdade e era vê-lo a
vaguear pelo Bairro Alto, Alfama, 24 de Julho e por aí fora, era mesmo o que se
podia dizer um pândego.
Manuel tirou o curso de
Direito e era um conceituado advogado da nossa Lisboa, casado com uma médica e
com duas filhas gémeas, que ele dizia “as meninas dos meus olhos”
Carlos que direi do
Carlos. Tirou o curso de Economia, trabalhava numa agência bancária, e vivia
unicamente para o trabalho, nunca se tinha visto com nenhuma mulher, nem em
festas. Embora fosse um homem lindo, alto, elegante e de olhos azuis, muitas
colegas suspiravam por ele, mas na cara de Carlos, nem um sorriso assomava.
Triste e nervoso, comentava-se na agência que era gay e andava num psicólogo
porque não queria assumir-se.
Diana tinha 20 anos era
parecida com a irmã, a diferença eram os olhos, eram azuis da cor do céu,
daqueles que despertam paixões. Os colegas da universidade chamavam-lhe “Deusa
do Olimpo”.
Iam todos ao funeral do
pai de Maria e Diana. Tinha falecido por acidente, um menino de oito anos,
casualmente tinha acertado com um tiro no pai delas.
Manuel guiava a sua
carrinha BMW, João cantarolava o “anel de rubi” de Rui Veloso e olhava de esguelha
para Diana.
“Tu eras aquela que eu
mais queria, para me dar algum conforto e companhia, e era só contigo que eu sonhava
andar………….”
Maria que ia à frente com
o Manuel, já irritada, quase grita.
- Cala-te João, não
chateies, parece que vais para uma festa, queria ver se fosse o teu pai!
A cara de Carlos, era
branca translúcida, mais parecia de cera, tremia e os suores eram frios.
- Pessoal diz a Diana o
Carlos não se está a sentir bem.
- Manuel pára! Diz Maria.
- Carlos, amigo que aconteceu!
Manuel encosta o carro à
direita em plena A23, logo se ouve uma buzinadela.
Grita o João – Ó pá vai te
lixar, não vês que temos aqui um doente.
Maria pega numa garrafa de
água, deita um pouco na mão e passa na testa de Carlos. Este contacto acelerou
o bater do coração de Maria e um calor ruborizou o seu rosto. Carlos parecia
mesmo que ia desmaiar, João e Manuel tiveram de o amparar. Manuel sendo o mais sensato,
tentou que os amigos mantivessem a calma.
- Que estás a sentir
Carlos, queres que chamemos uma ambulância? Então amigo, tenta manter-te
acordado, vamos fazer um funeral, não queiras que façamos dois. Manuel faz com
que um pequeno sorriso se acerque da face de Carlos.
Diana chora e João faz-lhe
um carinho, as suas faces roçam uma na outra e João enlaça Diana num abraço,
que faz com que os outros três fiquem sem saber que dizer. João percebe os
olhares e fica sem pinga de sangue, mas não consegue retirar a sua mão da de
Diana.
Manuel exclama – Outro a
desmaiar não, já basta um! E sorri.
Com Carlos já reanimado, voltam
aos seus postos no automóvel e Manuel parte rumo à aldeia, e diz. – Não quero
parar mais nenhuma vez, meninos comportem-se.
João e Diana estão de tal
maneira atónitos um com o outro, que não se conseguem afastar, e assim vão
caminho fora. Maria pelo espelho lá ia olhando para trás, mas não era para a
irmã, mas sim para Carlos.
Segundo
Capítulo
A aldeia estava edificada
no cume de uma colina. A vista era esplêndida, sobre os campos e a serra, esta
era a visão que a aldeia lhes oferecia. A paisagem era magnífica, transmitia
calma, paz e tranquilidade, era de uma beleza natural. As casas eram
praticamente todas de pedra. Lá iam eles subindo serra a cima.
Chegados há aldeias, as
pessoas acercaram-se deles. Diziam algumas, minhas queridas tão novo e que
morte tão horrível. Ainda não se refizeram da morte da mãe agora a do pai.
Joana tinha-se matado
havia 2 anos, altura em que Maria levou a irmã consigo para Lisboa, ainda não
conseguiram compreender o que teria levado a mãe a cometer o suicídio.
Tinha na altura 50 anos e
uma vida pela frente. Um homem que a amava e duas filhas lindas, que poderia
querer mais! A vida tem razões que a própria razão desconhece. O segredo
levou-o com ela!
Carlos disse que não tinha
coragem para entrar na igreja, não se sentia bem e não queria causar problemas
aos amigos. Veio porque Maria lhe comunicou e em atenção da amiga, assim o fez.
Tremia e suava.
Manuel pensava para com
ele próprio, que Carlos era diferente do menino que com eles andava na escola
primária, sempre alegre a brincar, talvez ainda mais brincalhão que o próprio
João. Teve uma alteração drástica quando acabamos o 4º ano, teria sido do
ingresso no secundário? Alguma coisa aconteceu e Manuel ia descobrir. Não
conseguia ver o amigo no farrapo que se transformara.
João nem parecia o mesmo
alegre e folião, andava atrás de Diana parecia um cachorrinho.
Maria, Diana e a tia
Emília (irmã do Professor António) iam sendo cumprimentadas pelas pessoas em
sinal de luto e respeito. Estas apresentavam-lhes as condolências, a igreja
estava cheia. Todas as pessoas da aldeia e arredores, vieram despedir-se
daquele que tanto tinha feito pela terra, o Professor António e Presidente da
junta de freguesia.
O velório é feito para a
reunião dos familiares e amigos, para celebrar as bem feitorias praticadas pelo
falecido. E a aldeia toda só falava das qualidades, do carácter e dos atributos
que este tinha feito a todos e para todos. A bem dizer sempre que há um velório
se diz “coitadinho era tão boa pessoa”.
O velório, levou toda a
noite, o funeral seria no dia seguinte da parte da tarde.
O Manuel e o João, nunca
abandonaram as duas raparigas, estiveram com elas todas as horas e minutos. Só
Carlos ficou cá fora no adro da igreja, rodeado pelos seus familiares.
Após o velório, o padre
fez uma oração, as exéquias em memória do defunto para encomendar o corpo às
mãos de Deus, para a vida eterna. Saíram da igreja, directos para o cemitério
que era mesmo ao lado da igreja.
Manuel preocupado com Carlos,
que não tinha entrado na igreja, pede a João que vá ficar com ele lá fora, pois
não o queria sozinho. Assim que o caixão sai da igreja, se João não estivesse
ali, Carlos tinha-se esborrachado no chão. Assim que Maria e Manuel vêem João
com Carlos nos braços, correm para eles. Carlos desmaiou.
Outras pessoas acudiram, e
levaram Carlos para a casa de Maria. Logo apareceu o médico que estava no
velório. Carlos estava com uma pulsação de 120 e a tensão a 18/10. O médico
quis saber se este era hipertenso, o qual respondeu que não.
Manuel questionou João, de
que se estaria a passar na vida de Carlos, porquê estas alterações? Embora já
há algum tempo que não se encontravam, pois as vidas às vezes não o permitiam,
falavam-se por telefone e não tinha conhecimento de doença alguma em Carlos.
Chegadas a casa, Maria e
Diana, logo se puseram a par da situação de Carlos.
Maria não conseguia deixar
de acarinhar Carlos, e ele parecia que se sentia bem melhor estando ao pé dela.
João também estava mais
calmo, nem parecia o boémio, conversador e cantador em que se tornara.
Maria pôs a mesa e foram
comer alguma coisa, pois as pessoas da aldeia, já se tinham retirado, mas
haviam deixado cestas repletas de alimentos. Era hábito na terra, levar
alimentos aos familiares mais próximos dos defuntos.
As pessoas da aldeia, eram
simples, simpáticas, acolhedoras e hospitaleiras.
Manuel começou por dizer –
Carlos consegues explicar-nos o que se passa contigo? Estás doente, é alguma
coisa menos boa? Estamos aqui os teus amigos, aqueles em quem confiavas, até te
teres fechado num mundo só teu! Não te vamos criticar, condenar, aconteça o que
tenha acontecido, mas vais ter de nos contar.
Carlos começou a soluçar,
como se fosse uma criança, os soluços deram lugar a um choro silencioso e
ininterruptível, aquela dor infernal, fazia-o afundar numa dor profunda, como
se de um terrível pesadelo se tratasse.
Maria acercou-se dele e
lançou os braços à volta do seu pescoço, Carlos encostou a cabeça no ombro de
Maria, e assim ficaram, não sabem se minutos se horas. Sem perceberem porquê de
repente os seus lábios tocaram-se e os seus corações bateram num ritmo uníssono,
então ele mordeu o lábio dela e as suas línguas encontraram-se. Carlos e Maria
tinham perdido o controlo, e entregaram-se a um beijo de desespero e angústia.
Quando se afastaram, estavam sozinhos e ofegantes. Voltaram a unir as suas
bocas, agora com mais intensidade, foi um beijo suave e terno, este não era de
desespero havia algo a brotar e não sabiam o que era!
Carlos apertou Maria
contra ele, era maravilhoso o que estava a sentir. Carlos desde pequeno que
estava apaixonado por Maria, mas o passado não permitia que ele amasse alguém,
era mesmo proibido amar, o pecado que tinha cometido não o deixava ter algum
relacionamento.
Maria foi a primeira a
falar – Carlos será melhor que nos vamos deitar, já é tarde, e podemos
arrependermo-nos do que possa vir a acontecer.
- Sim, Maria tens razão,
eu não posso, não posso! Mas de repente ficou branco como se fosse desmaiar.
- Carlos, não disse por
mal! Não leves a mal, mas somos amigos e não quero que nada estrague a nossa
amizade.
Afastaram-se, e cada um
foi para o seu quarto. Carlos ficou no quarto onde já descansava Manuel. Mas,
este por sua vez não dormia, assim que Carlos chegou acercou-se dele e quis
saber tudo.
- Conta lá amigo, já perdeste
a virgindade?
Carlos desviou o olhar
envergonhado e dirigiu-se à casa de banho.
- Já vi tudo, não queres
falar! “Seja feita a sua vontade”, quando quiseres desabafar, estou aqui de
coração aberto para te ouvir e se puder ajudar.
Terceiro
Capítulo
No dia seguinte
levantaram-se todos mais ou menos à mesma hora, com excepção do João. Já se
previa como boémio não tinha regras e horários.
Diana dirige-se ao quarto
onde ainda este dormia a sono solto, e um ronco se ouviu. Sentou-se na beira da
cama e fez-lhe uma carícia na cabeça. João ao sentir este afago, atrai Diana
sobre si e rouba-lhe um beijo ardente e caloroso. Diana deita-se ao seu lado e
mais beijos trocaram, João percorre o corpo de Diana com as mãos e pára no
monte de vénus, esta agarra-lhe a mão e incentiva-o a tocar-lhe, envolveram-se
debaixo dos lençóis. Diana estava quente e húmida e João penetrou-a. A verdade
é que João desejou profundamente Diana logo que a viu.
- Diana, podias ter dito,
que ………….
A rir, diz - fazia alguma
diferença, alguma vez tinha de ser a primeira!
Manuel, Maria e Carlos,
estavam na cozinha, sentados à mesa a tomarem o pequeno-almoço, quando ouviram alguns
barulhos vindos do quarto onde João estava. Caíram numa gargalhada pegada.
Quando pararam de rir, Manuel comentou – O João foi fisgado.
Maria pensou em como foi
maravilhoso ter reencontrado Carlos, e como foram deliciosos os beijos que
trocaram, mas a tristeza dele não lhe saía da cabeça.
João olhou para Diana,
beijou-a na testa, rodeou-lhe a cintura com os braços e assim adormeceram.
Algum tempo depois batem
na porta e ouvem Maria.
– Diana toca a levantar, temos muitos assuntos
para tratar.
João levanta-se, pega
Diana ao colo e vão em direcção à casa de banho, tomar um duche. Diana passa
gel no corpo de João e vice-versa. E voltam a fazer amor.
O boémio João estava
enamorado de Diana. Iria perder o seu estatuto de pândego. Seria Diana a mulher
que faria de João um homem íntegro?
Passados 30 minutos chegam
João e Diana à cozinha muito envergonhados, Diana pede desculpa a Maria e diz
que não volta acontecer.
- Temos assuntos do pai a
tratar, vamos agora falar com o vice da junta.
- “Senhores” querem nos
acompanhar, ou preferem dar uma volta pela aldeia e visitarem os vossos
familiares.
Manuel – Mariazinha, tenho
de fazer uma visita às minhas tias, mas se precisares de ajuda, fica para mais
tarde.
- Eu vou com vocês,
responde João, ainda ontem vi os meus pais e está tudo bem com eles, mais tarde
vou lá com a Diana.
Diana baixou a cabeça,
ficou em silêncio, o seu rosto estava corado e envergonhado.
Carlos diz que vai com
Manuel, pois também quer ir visitar os pais e os irmãos.
Carlos nunca mais visitou
a aldeia desde que se foi embora. Eram os familiares que o visitavam em Lisboa,
nunca mais teve coragem de voltar à terra.
Estava com medo que as
pessoas descobrissem o seu passado. Que atormentaria tanto Carlos?
- Muito bem, não sei se
estaremos de volta para o almoço, mas logo que estejamos despachadas, mando-vos
uma mensagem.
Manuel responde, - Melhor
cada um tratar de si e encontramo-nos aqui mais tarde.
Maria, Diana e João,
desceram a rua, directos à junta de freguesia, ficava duas ruas abaixo da casa
delas.
Manuel e Carlos, foram no
BMW visitar os familiares. No caminho deixou Carlos em casa dos pais, as casas
eram quase no fim da aldeia.
Quarto
Capítulo
A mãe abraça Carlos.
- Carlos meu querido filho,
que felicidade há quantos anos não vens à nossa humilde casa. Parece que tens
vergonha dos velhos. O pai e os manos foram trabalhar, mas estão de volta às 6
horas.
- Ontem quase nem nos
falamos, preferiste ficar na casa do Professor António, bem verdade que é
melhor que a nossa, mas a limpeza aqui abunda e lá desde que a Joana morreu, é
um corrupio de catraios, parece que agora dava explicações.
- Foi numa lição destas
que se deu o incidente, mas que desgraça tão grande. Como é que o Zé Tó tinha
aquela arma com ele?
A mãe não o deixava falar,
e quando referiu o sucedido, Carlos ficou branco como a cal da parede.
- Filho estás bem? Já
ontem estavas pálido, estou mesmo a ver que em Lisboa não te alimentas como
deve ser de tão magro que estás!
Carlos tentou recuperar e
disse que é da situação, ninguém estava à espera e foi um choque para todos.
- Carlos como estão os
pais do Manuel, também são uns desnaturados desde que foram viver para Lisboa
nunca mais voltaram á terra.
- Mãe, também nunca mais
os vi, Lisboa é muito grande e cada um tem o seu trabalho que nos ocupa os
dias.
- Anda filho vou tratar do
nosso almoço, claro que almoças comigo, nem poderia ser de outra maneira.
Carlos sorri e abraça a
mãe, aquela mulher que tanto ama, mas a quem não conseguiu contar o seu
segredo. Abençoaria ela o pecado que cometeu ou escorraçava-o chamando-lhe
animal!
Quinto
Capítulo
Manuel chegou a casa das
tias, e estas acercam-se dele num abraço caloroso.
Diz a tia Bernardete, a
mais velha das irmãs. - Meu querido, que lindo tu estás! Os teus pais, esses
degenerados, nunca mais voltaram á terra, até parece que tem picos. Se nós as
duas não os fossemos visitar, não sabíamos nada deles!
A tia Paula – Estás mesmo
lindo, a tua mulher e as gémeas, como estão? São umas bebés lindas, igual uma à
outra. Mas nós na família não temos gémeos, deve ser da parte da tua mulher?
- Sim tias, estão todos
bons, pais, mulher e filhas. Acerca-se do telemóvel e mostra-lhes várias fotos
das gémeas.
Diz uma - Mas que lindas
que estão!
Responde a outra – Com uma
família como a nossa só podiam ser lindas, são mesmo parecidas contigo irmã.
Efectivamente as gémeas tinham os mesmos olhos azuis da tia Paula.
- A Paula no nosso tempo,
era uma das raparigas mais lindas da aldeia, não teve foi sorte nenhuma. Com
tantos pretendentes, foi logo apaixonar-se por um caixeiro-viajante que lhe
prometeu mundos e fundos e até hoje nunca apareceu!
- Irmã ainda não sou velha
nenhuma, só tenho mais 5 anos que o Manuel. Ainda agora entrei nos 40, está bem
que nunca saí da aldeia, mas porque tu nunca deixas-te. Agradeço teres sido uma
mãe para mim, pois nunca conheci a nossa mãe. Talvez se não me tivesse tido
ainda hoje era viva.
- Estou a pensar ir passar
uns tempos a Lisboa, visto ter ficado desempregada, pois como professora,
estamos a passar um mau bocado! (Sorri) quem sabe não encontro um “Dom Juan”, o
“tal”.
- Tu só encontras é
desvairados, olha o João a paixoneta que tiveste pelo rapazinho, bem mais novo
do que tu, mas naquele verão vocês não se largavam, pareciam “cola”.
Manuel – Com o João? Parece-me
que o João já está ocupado! Minha querida Paula. Serás bem-vinda o tempo que
quiseres a minha casa ou à dos meus pais. As tuas sobrinhas vão adorar. Pode
ser que se arranje qualquer coisa para fazeres.
- Tu como tia do Manel,
tens de te dar ao respeito. E, agora queres-me abandonar neste fim de mundo, eu
que dei a minha vida por ti, para te educar.
Manuel e Paula olham um
para o outro e sorriem.
- Sim mana, serás sempre a
minha “mamã” e nunca te vou abandonar.
Sexto
Capítulo
Maria entrou na junta de
freguesia e cumprimentou o adjunto do pai, que passaria a ser o sucessor.
- Sr. Fernando como vai,
temos que conversar, pois não tenciono voltar à aldeia tão depressa, queria que
ficasse a tomar conta de tudo. Eu e a Diana vamos hoje passar-lhe uma
procuração que o meu amigo Manuel reconhece na qualidade de advogado. Queria-lhe
perguntar se está de acordo?
- Claro que sim Diana, o
teu pai era para mim além de meu chefe, um grande amigo. Queria-te dizer que já
algum tempo vinha estranhando certos comportamentos do teu pai. Começou a dar
explicações a crianças, não que tenha a ver com isso, mas ele tinha tanto
trabalho aqui na junta, na Câmara, na escola e ainda dar-se ao trabalho de
ajudar aqueles miúdos. Acho que andava mesmo cansado e triste.
- O meu pai dava
explicações? Nunca soube nada disso!
- Sim, desde que a tua mãe
morreu. Talvez para não se sentir sozinho.
- Que estranho, nunca
comentou nada comigo!
Diana e João
encontravam-se fora das instalações da Junta, jurando juras de amor.
- Se soubesse que esta
“deusa” existia já tinha dado a volta ao mundo se preciso fosse. Diana, eu sou
bem mais velho que tu, quase podia ser teu pai, mas o meu coração é teu se o
quiseres aceitar.
- Carlos logo que te vi o
meu pequeno coração palpitou, não sei se é amor, mas algo aconteceu!
- Meu pai (sorriu) mas não
és! Se me queres eu quero-te.
- Soubesse eu que o meu
amor estava junto da minha amiga Maria, há quanto tempo te tinha procurado!
Os olhos azuis de Diana
verteram algumas lágrimas.
-Amo-te João!
- Meu amor!
As suas bocas uniram-se
num beijo apaixonado e de juramento de um futuro a dois.
- Foste a primeira mulher
com quem fiz amor sem preservativo! Haverá problema?
- E tu o primeiro homem da
minha vida! E não te preocupes que eu tomo a pílula, pois o ano passado tive
uma disfunção hormonal, o meu período não era certo, por isso, foi-me
aconselhada pelo médico.
- Já querias bebés? Tem
calma é muito cedo ainda sou nova, mas garanto-te que vais ser pai antes dos 40.
Sorri.
- Vou esquecer os dias
frios e cinzentos que vivi antes de te ter conhecido. Saber que sou importante
para ti fez renascer em mim um novo homem.
Diana abraça forte João,
novamente as suas bocas se uniram, foram beijos atrás de beijos, como se no
mundo só eles existissem.
- Diana chega aqui. Chama
Maria.
- Diana, vamos passar uma
procuração ao Sr. Fernando, a dar poderes para tratar de todos os assuntos que
fiquem pendentes e a venda das casas e dos terrenos. Agora nada mais nos prende
aqui! Concordas?
- Claro que sim Maria,
tudo o que decidires, assino por baixo. Eu e o João temos uma coisa para te
contar.
- Estou a ver que sim,
estou a ver que sim! “Sr. João” comporte-se, agora sou eu a tutora desta
menina. E sorri.
- Mas eu tenho 20 anos,
maior de idade. Também ela ri.
-Amo a tua irmã, que
queres que te diga Maria. Eu nesta idade não esperava que alguém tocasse este
coração. Mas, ela não só tocou, como roubou!
Todos sorriem e dão um
abraço.
- Têm o meu consentimento,
já sabem que sim. A minha irmã com um dos meus melhores amigos! Cuida dela como
se fosse de cristal, e se a fizeres sofrer tens-me à perna!
- Vamos então almoçar,
depois podem ir dar a novidade aos teus pais.
- Vamos ao restaurante do
Sr. Abílio, há tantos anos!
Dirigiram-se rua abaixo,
directos ao restaurante, João segurava fortemente Diana, como se fosse uma criança
com o seu primeiro brinquedo.
Sétimo
Capítulo
Chegados ao restaurante,
as pessoas acercaram-se deles, a apresentarem as condolências e a
cumprimentá-los.
O Armando, filho do Sr.
Abílio ficou contente com o encontro, eram da mesma idade e tinham andado na
escola juntos.
Armando abraça Maria e
diz.
- Estás linda, há quanto
tempo, linda, sempre tu foste! Os olhos de um e de outro encontram-se e Maria,
vê paixão nos olhos de Armando e baixa o olhar.
- Olá João que bom ver-te,
esqueceste-te dos amigos, já não te via, vai para uns bons 10 anos, quando
andaste aí enrolado com a Paula. Alguma vez contaste ao Manel. Se ele soubesse
que prometes-te mundo e fundos, matava-te!
- Mas coitada da Paula,
não tem sorte nenhuma também passou por aqui um vendedor, vinha cá todos os
meses, durante mais de um ano, e tiveram um romance, até lhe prometeu
casamento. Mas já vai para uns três anos que ninguém lhe põe a vista em cima.
Cá para mim era casado, e aqui tinha uns lençóis quentinhos à espera dele.
Diana ficou branca e
triste, com tudo o que acabara de ouvir.
Maria reparou no aspecto
frágil da irmã e respondeu.
- Que maldoso Armando, não
te fazia uma velha “coscuvilheira”. A minha irmã é a namorada do João, e são
coisas que as pessoa apaixonadas não gostam de ouvir.
O João foi o que foi, e só
a ele diz respeito. Vamos acabar com esta conversa “encantadora”, que não nos
leva a lado nenhum.
Armado baixa os olhos e
envergonhado pede desculpa.
- Desculpa Diana, é que eu
era amigo de infância destes dois, como tu sabes. Estava só a brincar. Tu
conheces-me desde pequenina e sempre brincámos contigo, não sabia da vossa
relação, senão, não teria dito nada.
- Estás desculpado pá, mas
para a próxima, levas um murro nos queixos. Sempre foste apaixonado pela Maria
e nunca lho disseste, ainda agora cais de beiço por ela. Se és um infeliz,
deixa os outros serem felizes.
Maria que tinha percebido
o olhar de Armando, baixa a cabeça. Maria sempre soube da paixão deste, mas
nunca nutriu algum sentimento por ele.
- Que tens que se coma,
que a conversa já vai longa.
Diana ficou de rosto
macilento e calada, não falou durante todo o almoço.
Foi um almoço ligeiro e
silencioso.
Os corações de ambos
batiam forte e rápido, João colocou a mão em cima da perna de Diana, esta retirou-a,
ele olhou-a nos olhos, e esta afastou o olhar.
Muito havia para conversar
entre os dois, João teria de contar a Diana a vida de boémio que levava. Tinha
de pensar bem, como lhe iria explicar que tinha destruído muitos corações, mas
que ninguém tinha conseguido roubar o dele.
Era ela já a dona do seu
coração e ninguém, mas ninguém iria destruir aquilo que havia conquistado.
Faria tudo o que ela quisesse, um cordeirinho, até colocaria uma coleira se ela
o que quisesse amarrado a ela.
Ao conhecer Diana tinha
sido algo que em 35 anos nunca lhe tinha acontecido. Aquela mulher era
especial, ainda por cima tinha-lhe dado aquilo que só se dá, a alguém que se
ama. E Diana amava-o, tinha-lhe dito que o amava. Ele estava perdidamente
apaixonado, tinha sido amor à primeira vista.
Acabado o almoço, Maria
disse que ainda ia analisar alguns documentos com o Sr. Fernando, para poderem
dar andamento a todo o processo, por isso ia para a Junta.
- Vocês podem então ir a
casa dos teus pais João, que eu agora cá me arranjo, não preciso da Diana para
nada.
- Mana, eu vou contigo. O
João vai aos pais dele, que eu preciso de por umas ideias no lugar.
- Mas eu queria que
viesses comigo, queria-te apresentar como minha namorada.
- Namorada? Mas eu agora
sou tua namorada? Para se ser namorada costuma-se pedir namoro, e tu que eu me
lembre não pediste nada!
- Ok, tu é que sabes, mais
tarde se me deres oportunidade conservamos, pois de mim não te vais livrar.
Amo-te Diana, e nunca disse esta palavra a ninguém, só a ti. Vais-me ouvir até
te cansares, amo-te, amo-te, amo-te…………………..
- Meus meninos, parecem
duas crianças, como é que é? Entendam-se lá por favor.
- Já disse, vou contigo!
- João encontramo-nos logo
em casa ao jantar, se jantares nos teus pais avisa. Bj.
Maria e Diana, afastam-se.
João entra dentro do
restaurante e dá um soco no rosto de Armando.
- Para a próxima mantém
essa boca suja fechada.
Oitavo
Capítulo
Manuel almoçava com as
tias, um almoço enérgico e cheio de coisas boas. A tia Bernardete, tinha feito
várias sobremesas, e estava a empanturrar Manuel com todas.
- Tia, saio daqui feito
uma bola, mas os teus doces, são “dádivas do céu” não consigo encontrar um
arroz-doce e umas farófias assim em lado nenhum, Nem a minha mãe faz assim.
- Claro, mas a tua mãe
sempre foi uma “dondoca”, cozinha não era com ela. Por isso foi para Lisboa,
para não ter de convidar ninguém para almoçar ou jantar.
- Então Paula, sempre
queres ir, passar uma temporada a Lisboa? Tenho, é o carro cheio, mas, tento
dar um jeito e mando um dos homens de transporte.
- Não é preciso Manuel, se
for levo o meu carro, e vou atrás de ti.
- Boa! Então começa a
preparar as malas, que não vou sem ti.
- Essa agora, vou ficar
sozinha!
- Tia, venha também passar
uns dias connosco.
- Estás-me a convidar? Ou
foi só por eu dizer?
- Claro que te estou a
convidar, e não aceito um não.
- Sendo assim, vou com
vocês, depois a Paula pode lá ficar, ela bem precisa de se distrair, mas
cuidado com o João, não se envolvam outra vez.
- Tia já lhe disse, o João
já está comprometido com a Diana a irmã da Maria,
- Com a miúda, mas ele é 8
ou 80, a
Paula era mais velha, agora com uma criança, de quem ele podia ser pai!
- Não comente tia.
Bernardete sai da
sala
- Espero que sejam
felizes, o João no fim é um bom homem. O nosso envolvimento nunca foi mais nada
do que senão sexo. Ele era bom na cama e eu também não sou nenhuma santa, nem
freira.
- Nunca prometemos nada um
ao outro. Era só atracção física. Ele como homem é um pedaço de mau caminho. Convenhamos,
vocês os três eram os mais lindos cá da terra. Quando vocês foram embora a
terra perdeu luz e cor.
- Só uma pergunta? o
Carlos ainda é aquele rapazinho triste, tímido e assustadiço que era? Era tão
brincalhão e de repente tornou-se esquivo.
- Sim Paula, infelizmente
está sempre nervoso, inseguro, acanhado, bem tento que ele me conte, mas ainda
não consegui descobrir.
- Comenta-se cá na terra que
é homossexual.
- Não sei, mas se for
isso, não tem que sentir vergonha. Cada um é como cada qual, e ninguém tem nada
com a vida de cada um. As opções sexuais, ninguém as escolhe.
Nono
Capítulo
João chegou a cada dos
pais. Estes esperavam-no na soleira da porta.
- Ai, meu filho como estás
lindo, sempre foste o mais belo da terra e o mais desejado. Como vais lá por
Lisboa, ontem nem oportunidade tivemos para falar.
A mãe apertava-o tanto que
nem o conseguia deixar respirar.
- Mulher, deixa o rapaz em
paz, quase que o estrafegas. Diz o pai.
- Está tudo bem mãe. Faz-se
por isso, tenho muito trabalho. Ando agora em época de exames, tenho muitos
testes para corrigir. E agora até nós somos avaliados, temos de fazer exames,
depois de tantos anos professores, parece que não servimos para a actividade.
- Pois, coitada da Paula,
este ano não foi colocada. Tem estado no desemprego.
- Irra, toda a gente tirou
o dia para me falar da Paula. Basta. Estava irritado.
- Então João, não se fala
assim à tua mãe, se estás mal disposto, não temos culpa. Se quiseres desabafar
estamos aqui, os teus melhores amigos.
- Podes ter amigos, mas
como estes dois velhos não tens.
- Desculpem! Hoje já
espetei um murro na fronha do Armando, logo que me viu foi um disse que disse
acerca da Paula, que me enojou. Ainda por cima à frente da minha namorada.
- Namorada! Quem é ela?
- Era para vir comigo,
para vos a apresentar, mas por causa do sacana do Armado, não quis vir, e saiu
zangada.
- Mas quem é ela filho?
- Vocês conhecem, é a
filha mais nova do presidente da junta. A Diana.
- A Diana! Mas é uma criança
ao pé de ti, onde andas tu com a cabeça rapaz!
- Mulher, deixa o cachopo,
é preciso é que gostem um do outro, e sejam felizes.
- Parabéns filho, bom
gosto, é cá um pedaço!
- João, sabes que toda a
aldeia vai falar, prepara-te!
- Quero lá saber da
aldeia, não fossem vocês, nunca mais cá punha os pés.
- Que queres que prepare
para o jantar? Hoje é á tua escolha.
- Não mãe, eu vou jantar
lá acima, pois tenho que falar com a Diana, para explicar toda esta confusão.
Amo esta miúda, se ela ainda me quiser, espero que a aceites como nora. Pois
esta é a tal.
- Mas, passas cá com ela
filho.
- Claro que sim, queremos
a vossa bênção!
Décimo
Capítulo
Carlos esperou pelo pai e pelos
irmãos, estes abraçaram-se efusivamente, num abraço caloroso.
Carlos era o mais novo dos
três irmãos, chamavam-lhe “O pequeno príncipe”, contavam-lhe várias vezes a
história de que ele iria crescer, aprender, conhecer o mundo e ser um grande
Homem. Têm entre dez e nove anos de diferença para os irmãos. Quando nasceu era
como um bibelô, andavam com ele sempre às cavalitas. Levavam-no para todo o
lado.
- Carlos, meu Carlitos
nunca ligas, nem dizes nada. Parece que és só tu.
- Vieste cá não por nós,
mas sim por outros. Por nós nunca cá punhas os pés. Se queremos saber de ti
temos de ser nós a telefonar-te, pois tu esqueceste completamente a família.
O pai, - deixem lá o
rapaz, ele lá terá a sua vida. Ser bancário dá trabalho, e agora todos os
bancos com problemas, faço ideia!
- Obrigado pai. Nunca me
esqueço de vocês, mas às vezes quando me lembro de ligar, já é tarde. Sei que
vocês se levantam muito cedo para ir para a fábrica. Por diversas vezes ligo
para a mãe à hora do almoço, e pergunto por todos.
- Puto jantas connosco?
Assim que ouviu a palavra
puto, ficou estático e a sua face empalideceu.
- Claro que janta, diz a
mãe. Vocês não vêem como está magro, estes rapazes da cidade, não comem e
passam a vida em ginásios.
- Ainda ontem na hora do
funeral desmaiou, deixaste-nos preocupados!
- Ai rapaz no que te
transformaste, sempre tão alegre, divertido, na brincadeira. De um dia para o
outro tudo se modificou, parece que carregas os pecados do mundo.
Carlos sem saber o que
responder, diz - Como qualquer coisa com vocês, mas depois tenho de ir ter com
os outros. Podem precisar de ajuda.
- Sempre a pensar primeiro
nos outros, rico filho!
Décimo
Primeiro Capítulo
Quando João chegou, ainda
ninguém se encontrava em casa. Esperou sentado no banco de pedra que estava à
beira da porta.
Na aldeia todas as casas
tinham um assento às portas. Seria para as pessoas poderem descansar enquanto
esperavam que os donos chegassem.
João tentou por as ideias
em ordem, toda a tarde tinha pensado no que diria a Diana, mas agora que estava
próximo parecia que tudo se esvanecia.
O sofrimento que sentia,
nunca tinha sentido dor igual. Estava mesmo apaixonado, o que aquela rapariga
tinha feito em menos de 48 horas.
Pensava para si. Pior será
saber se deixei de ser importante para ela, que os seus pensamentos não sejam já
meus. Se errei, não a conhecia, por isso não poderei pagar por erros
desconhecidos. “Quem nunca errou que atire a primeira pedra” somos seres
humanos e temos de saber perdoar. Vou assumir todas as minhas tolices, e ela
tem de compreender. “Saber perdoar é uma virtude” e a Diana é uma “Deusa”. A deusa
do meu coração.
Passada uma hora, e ainda envolto
nos seus pensamentos, avista na subida Maria e Diana.
Agora é que eram elas, “ou
tudo ou nada”.
Maria, - Olá João,
obrigada por estares à nossa espera. Espero que não estejas à muito tempo.
- Cheguei agora mesmo.
Parece que combinamos.
Maria abre a porta e
entra. Diana quando vai entrar, João segura-a por um braço e diz.
- Espera não entres,
preciso de falar contigo. Quer tu queiras, quer não vais ter de me ouvir,
depois podes decidir o que quiseres. A escolha é tua.
João pegou na mão de
Diana, dirigiram-se para uma zona afastada da casa, onde não havia habitações,
um descampado.
-Perdoa-me Diana se te fiz
sofrer, com a conversa daquele anormal, que nunca teve coragem de exprimir os
sentimentos que nutria pela tua irmã. Um falhado é o que ele é.
- Mas não estamos aqui para
falar dele, mas sim de mim e de ti.
- Sempre fui um homem que
só pensava nele (um bom vivant). Os outros vinham em segundo plano. Vivia cada
dia como se de o último se tratasse. Trocava de mulher, como muitos trocam de
camisa, era sedutor, atraente, as mulheres assim o comentavam. Sempre que
queria uma diferente, lá estava ela à minha espera. Na praia, num bar, aqui na
terra elas atropelavam-se para estar comigo.
- É verdade que andei envolvido
com a tia do Manuel, foram dois verões que passei cá nas férias. Ela era mais
velha, embora seja da aldeia é uma mulher experiente e encantadora, podia
dizer-te que andei com ela mas não tinha sido bom. Foi talvez a única por quem
passei um ano à espera de a voltar a ver. Ela tinha 30 e eu 25, foi uma
paixoneta de verão. Mas quando acabou o segundo ano, já não me dizia nada.
Nunca senti por ela o que senti por ti. O meu coração por ti suspira, acelera, e
bate a uma velocidade, que me deixa sem respiração. O calor é insuportável, a
emoção, perturbas-me. Esta tarde senti uma tamanha tristeza pela indiferença
com que me tratas-te.
- João!
- Deixa-me falar tudo, O
meu pensamento hoje foi todo para ti, quero que acredites e aceites os meus
sentimentos, a minha afeição, o meu Amor.
- Errei, mas quem não
erra, teria sido só eu a errar. Não te conhecia Diana. Por ti a partir de hoje,
quero ser um novo homem, mas na tua companhia, quero que me ajudes a ser
melhor. Ainda não tinha encontrado a felicidade, e quero que ela seja contigo,
junto a ti.
Perante ti prometo que te
vou amar e respeitar até tu me quereres. Deixa-me partilhar este caminho contigo
“porque amar não é olharem um para o outro, é olharem juntos na mesma direcção”.
- Amo-te Diana. Sorri - Nunca
tinha dito esta palavra a ninguém. A ti já a disse por várias vezes, vou
repetir até te cansares de ouvir, Amo-te, Amo-te, Amo-te, Amo-te……………………………….
- Parvo, também te amo,
fiquei triste, mas depois percebi que era o teu passado. Não quero o teu passado,
mas o teu presente e futuro. A minha vida já não faz algum sentido sem ti.
João, pega em Diana ao
colo e fá-la rodar de tão feliz que estava. Dos olhos de João umas lágrimas
corriam. Diana acercou-se dele e beijou a face molhada e salgada. As suas bocas
encontraram-se e a ansiedade cresceu, morderam os lábios um do outro, fecharam
os olhos, e as suas línguas juntaram-se numa dança ritmada.
Ele deslizou as suas mãos
pelas costas, levantou-lhe a camisola e uma mão deslizou para dentro do
soutien, apertou-lhe as ancas, Diana sustinha a respiração e deixava que João a
tocasse e acariciasse.
Décimo
Segundo Capítulo
Maria estava sozinha em
casa quando Carlos chegou, vinha como já era hábito pálido e ansioso. Beijou
Maria na face e esta passou-lhe a mão pelo cabelo.
- Carlos, agora estamos só
nós os dois, que é que tu tens? Desabafa comigo, sou um túmulo, já me deves
conhecer. Tudo o que aqui disseres, aqui fica.
Carlos abraça-se a Maria e
começa a chorar, mas um choro ruidoso e sentido. As lágrimas corriam pela face
de Carlos abaixo.
Sentaram-se frente a
frente.
- Ninguém me pode ajudar,
foi um incidente, um erro, foi algo que mudou para sempre a minha vida. Deus
não me pode desculpar, foi feio e ruim.
- Deus desculpa tudo,
temos é de ter coragem para assumir os erros e pedir perdão.
- Perdão, quem devia pedir
perdão, não era eu!
- Então conta-me, por
favor, conta-me!
- Desculpa mas não
consigo, será um segredo que é só meu, não o posso partilhar com ninguém.
Ninguém compreenderia, é horrível demais.
Neste instante chega
Manuel, e ouve parte da conversa. Fica encostado atrás da porta e não se aproxima.
- Matas-te alguém?
- Não credo!
- Mas antes o tivesse
feito. Carrego esta mágoa dentro de mim, e culpo-me pelo pecado que pratiquei
no passado.
Maria entrelaça as suas
mãos nas de Carlos.
- Nunca deixas-te que eu
me aproximasse de ti, sempre me expulsaste da tua vida. Sempre fui tua amiga, e
sabes que poderia ter sido mais. Tu nunca deixaste. Porquê?
- Maria, nunca
entenderias! E nunca me conseguirias amar, como se deve amar um homem. O meu
segredo estará sempre presente entre nós!
- Nunca tivemos problemas,
porque achas que temos segredos!
Maria beija a testa de
Carlos, e este oferece-lhe os lábios. E o beijo é ardente e molhado.
- Maria, só te posso dizer
que o que dizem por aí, é falso. Não tenho mulher, mas também não quero. Só
amei uma mulher e essa ficará para sempre nos meus pensamentos e coração.
- Não sei nada do que
dizem por aí! Essa mulher sou eu?
Carlos vira-lhe as costas
e sai. Dá de caras com Manuel que se encontra do outro lado da porta
- Estavas aí! É um complô
contra mim ou quê?
Manuel não responde e
entra na sala.
Os olhares de Manuel e
Maria cruzam-se numa interrogação.
Décimo
Terceiro Capítulo
- Manuel, tenho um pedido
a fazer-te na qualidade de advogado.
- Uau, pensava que estava
de descanso estes dias.
- Não me vais negar um
pedido, ou vais?
- Mas tu achas que eu
negava alguma coisa à minha melhor e linda amiga!
Maria ri.
- Diz minha querida, sou
todo teu! Se o Carlos ouve isto ainda levo um murro!
- Porque achas que levas
um murro?
- Só tu é que não percebes,
ou não queres perceber!
- Aquele “marmanjo” por
mais tímido que seja, sempre foi apaixonado por ti.
- Sempre percebi, mas ele
nunca me disse nada.
- Porque é que tu não
avanças-te, pelo que me dava a entender, tu também tinhas um fraquinho por ele.
- Tinha e tenho Manuel,
mas ele não me deixa aproximar. Por isso prefiro não perder a amizade dele.
- Sabes, que o nosso amigo
João, andou ao soco ao Armando. Sorri.
Maria dá uma gargalhada - O
quê? Que estás a dizer, mas nós saímos todos juntos do restaurante! Mas que ele
mereceu, mereceu!
- Que é que se passou ao
almoço? Pergunta Manuel.
- O parvo do Armando,
comentou o relacionamento do João com a Paula, às vezes nem me lembro que é tua
tia.
- Eu, também soube hoje dessa aventura, a tia
Bernardete comentou.
- Mas diz lá afinal o que
pretendes de mim.
- Queria que fizesses uma
procuração em meu nome e da Diana a dar poderes ao Fernando da junta. Não sei
se voltarei à aldeia. As recordações não são agradáveis. Já perdi aqueles que
me faziam vir cá.
- Agora só estão cá os
meus tios e primos, e com esses o relacionamento não é dos melhores.
Manuel dirige-se ao quarto
e trás de lá a sua maleta com o portátil.
- Como eu digo, este nunca
se separa de mim. Faz parte da minha vida. E sorri.
Abre a mala, retira o
portátil e diz.
- Onde tens uma tomada
eléctrica?
- Aqui mesmo atrás deste
sofá.
Manuel liga o cabo do pc e
inicia este.
- Cá vamos nós:
PROCURAÇÃO
____ Maria…………………… e Diana……………
declaram que constituem seu procurador, o senhor Fernando……………………
Entretanto chegam Diana e
João numa galhofa pegada. Os seus rosto transbordavam de felicidade.
Carlos estava sentado à
porta de cara baixa.
- O que é que ele tem?
Comenta João.
- Está com uma cara que
mete dó. Diz Diana. - Parece um “cachorrinho” abandonado à espera de uma
carícia.
- Carícia! Se queres dar é
a mim.
Diana ri-se, e faz um
carinho na cabeça de João.
- Tens-me toda só para ti.
- Diana o Manuel está a
fazer a procuração. Vou ligar a impressora do escritório do pai.
- Posso ligar o computador
do pai?
- Claro que sim.
As duas dirigem-se ao
escritório.
Décimo
Quarto Capítulo
Diana liga o computador/portátil, e fica
estupefacta!
A imagem do ambiente de
trabalho é uma foto do pai e mais um homem abraçados, que ela não conhece.
- Diana! Conheces este homem?
- Não, não conheço! Deve
ser colega da escola do pai.
- Não mexas em nada do
computador, vamos levá-lo connosco e depois analisamos o que nos interessa. E depois
fica para ti.
- Fixe, fico com um
computador só para mim.
- Maria. Grita Manuel.
– Posso ir imprimir.
- Podes, chega cá.
Manuel imprime a
procuração, e Maria e Diana assinam.
- “Meus Senhores” amanhã
já podemos ir embora. De manhã entrego a procuração ao Fernando e podemos
partir. Que acham?
Diz Manuel - Por mim tudo
bem, só tenho de ligar às tias a avisar que vamos logo pela manhã para elas
estarem prontas.
- Prontas! Comenta Maria.
- Sim, vão passar uns
tempos connosco. E a ver se arranjo algum trabalho à Paula.
- Estamos a precisar de
uma secretária com experiência de línguas, que faça traduções em inglês lá na
agência.
- Perfeito, ela é
professora de inglês, nada melhor.
Diana olha com ar de
desconfiada para Maria.
- Só falei! Mas se já começas
o namoro com ciúmes, não vais longe.
Diana sorri. – Confio no
João. Vamos embora logo de manhã? O João queria que eu fosse lá a casa.
- Ainda é cedo, podem lá
ir agora.
- Vou falar com o João.
Diana dirige-se à sala.
- João, vamos embora logo
pela manhã. Queres dizer alguma coisa aos teus pais.
- Podíamos ir lá agora,
que achas?
- Claro que sim meu amor.
- Tenho medo é que não
gostem de mim.
- Mas, quem não gosta de
um doce como tu!
- Vão adorar-te, tal como
eu te adoro.
Diana espeta um beijo
repenicado na boca de João.
- Obrigada por existires.
Décimo
Quinto Capítulo
João e Diana quando saem,
vêem Carlos sentado na porta, triste como sempre.
Diz João – Carlos vamos
embora logo de manhã, vamos agora despedirmo-nos dos meus pais. Se quiseres ir
despedir-te dos teus, podes vir connosco para baixo.
- Rapaz levanta-me essa
cara, e não percas outra vez a Maria. Sempre soubemos que gostavas dela.
- Vou com vocês. Em
relação ao outro assunto, cala-te.
Carlos comunica lá para
dentro que vai com eles.
Ficam Manuel e Maria.
Manuel telefona às tias e
diz-lhes para estarem prontas logo pela manhã. Que Maria já resolveu todos os
problemas. Não faz sentido ficarem mais tempo. Ainda por cima está cheio de
saudades das suas bebés.
- Maria, ainda não é desta
que descobrimos o problema do Carlos.
- Tentei, mas ele diz que
há um segredo a separar-nos.
- Acredita Manuel, não
faço ideia!
- Também tentei, mas ele
esquiva-se às perguntas. Mas que há algo. Há.
- Penso que só tu
conseguirás. Tenta agora em Lisboa não te afastares dele.
- É isso que farei.
- Primeira coisa, é abrir
uma conta na agência dele, para transferir os dinheiros do meu pai, em meu nome
e da Dina. Vou solicitar que seja ele o meu gerente de conta. Aí vai ter que me
aturar. E ri.
João e Diana, chegam a casa
dos pais deste.
- Filho, sempre resolveste
vir jantar connosco. Íamos agora começar.
- Onde comem dois, comem
três.
- Mãe, pai, quero
apresentar a minha namorada, vocês já a conhecem.
- Dianinha, minha filha é
um prazer.
- Vê se pões tino na
cabeça deste garoto.
Diana sorri.
- Sê bem-vinda à nossa
família. És a primeira que nos é apresentada.
João responde – A primeira
e, a última pai. Quem sabe ainda este ano vão a Lisboa ao nosso casamento. Isto
se a Diana quiser casar comigo.
Diana fica sem pinga de
cor.
- Sei querida, ainda és
nova. Queria muito que viesses viver comigo. Que dizes?
- Vou onde tu fores! Quero
o que tu queres!
- Ai, o meu menino está
apaixonado. Pensava que nunca chegava esse dia!
- Chegou mãe. A Diana é a
mulher da minha vida. O amor não se procura, ele vem ao nosso encontro.
João beija Diana à frente
dos pais, estes aplaudem. Estavam felizes o seu menino finalmente tinha
assentado.
Décimo
Sexto Capítulo
Carlos vagueou pela
aldeia, precisava pensar. Por muito que a ferida o magoasse, tinha uma vida
pela frente.
A voz que o atormentava,
hoje apareceu-lhe – Carlos levanta a cabeça, és um homem ou um bicho. Já
sofreste demais, já pagaste o erro dos outros. Deus não dorme, ele já está a
pagar o mal que te fez.
- Pensa na Maria, a mulher
que amas, e sempre amarás e não deixes que nada interfira na tua felicidade. É
verdade que ela vai sofrer quando souber. Mas tu! Não tiveste culpa. Tu é que
foste magoado, a vítima.
- Eras uma criança
indefesa nunca pensaste que alguém te magoaria de tal maneira. Ainda por cima
alguém de quem tu tanto gostavas.
- Sempre te disse para o
denunciares. Tiveste medo, e fechaste-te num casulo onde não deixavas ninguém
entrar. Um mundo só Teu.
- Amo-a! Mas, tenho medo!
Que vai ela pensar se vier a saber.
- Vai ficar triste, muito
triste! Mas com o tempo vai perceber que não foste o culpado.
- Também não sei se ela me
ama!
- Estás a ser parvo,
sempre soubeste que ela te amava. Foste tu que não deixaste que ela se
aproximasse. Agora ela tem medo.
- Vai Carlos, medita sobre
o assunto.
- Eu estou de partida, mas
se precisares sabes onde me encontrar. É só chamar. Sorri e caminha para longe.
- Vou ter saudades!
Obrigado por tudo foste um grande amigo.
Carlos olha em volta e “Carlos”
desapareceu. A mente de Carlos estava agora outra vez consigo.
Dirige-se para casa das
irmãs. Já é tarde e os pais já devem estar deitados. De manhã daria um beijo à
mãe e deixaria outro para o pai e irmãos.
Décimo
Sétimo Capítulo
Quando Carlos está quase a
chegar, encontra-se com João e Diana no caminho.
Caminham os três em
silêncio, nenhum fala nada até chegarem.
Ao chegar Diana agarra-se
ao pescoço da irmã, e grita feliz.
- Maria o João quer que eu
vá viver com ele. Deixas?
- Depois de tantos anos
sozinha, e agora que estava acostumada a ter alguém com quem falar á noite.
Volto a ficar abandonada.
- Mana, não ficas nada
abandonada, eu e o João vamos-te sempre visitar.
- Parabéns João, diz
Manuel, tens de pagar uma rodada.
- Parabéns, profere
Carlos, alguém que seja feliz.
- João, comporta-te com a
minha irmã, se não, já sabes tzzzzzzz
- Fica descansada Maria,
sou fiel. Tu menina Diana cuidado com os “veteranos” lá da faculdade.
- Outra coisa que me
preocupa, a Diana ainda tem dois anos de escola pela frente. Não quero que
abandones os estudos. Continuarei a pagar-te a universidade.
- Nunca, mas nunca
abandonaria os estudos. Vou ser uma “Dra.” de comunicação e relações públicas.
E ri-se.
- Já sabes quero ir
trabalhar contigo.
Todos se riem.
- Se nos fossemos deitar!
Amanhã levantamo-nos cedo para despachar tudo o que ainda está pendente. Levar
a procuração ao Fernando e depois metemo-nos ao caminho.
- Maria, não te esqueças
que disseste que eu posso levar o computador do pai.
- Vai arrumá-lo na mala
para não te esqueceres.
Dirigem-se todos para os
quartos, João segura Diana.
Encosta a sua boca à
orelha dela e baixinho diz.
- Queres dormir comigo?
Não me apetece dormir sozinho. Faz uma cara triste.
- Achas que te ia deixar
dormir sozinhos. Morde-lhe o pescoço.
Os outros já entraram
todos nos quartos. João aperta a mão de Diana, e dirigem-se para o quarto desta
que é o mais afastado dos outros.
- Não faças barulho.
Murmura Diana a João.
- E se fizer! Quero que
todos saibam o quanto te amo.
Os lábios uniram-se, num
beijo longo, carinhoso e apaixonado.
João deita Diana na cama,
e fazem amor. Um amor suave e puro como João nunca tinha feito.
Décimo
Oitavo Capítulo
De manhã levantam-se todos
bem cedo.
Arrumam os sacos e outros
pertences e partem.
Manuel pára o carro na
junta de freguesia, Maria sai para resolver alguns assuntos que ainda estão
pendentes com o Sr. Fernando, e entregar-lhe a procuração. Diana fica com ela.
Os outros dirigem-se cada
um a casa dos familiares para se despedirem. Combinaram todos ir ter a casa das
tias de Manuel.
A mãe de Carlos,
suplica-lhe que venha mais vezes vê-los e que se alimente pois está muito
magrinho.
Os pais de João, pedem ao
filho para este ter cabecinha, agora que namora com Diana não vá estragar tudo.
Ainda por cima com uma rapariga da aldeia.
Este afiança, desde o dia
em que viu Diana, foi como uma luz que entrou na sua vida. Nada neste mundo irá
alterar o que sente por ela.
Manuel chega a casa das
tias, estas já estão cá fora com tudo arrumado no carro. Manuel comunica a
Paula que talvez Maria lhe arranje algo para fazer na agência onde trabalha.
Paula fica feliz e
agarra-se ao pescoço de Manuel. – Obrigada a ti e a ela.
- Maria sempre foi uma
jóia de menina, tal qual o pai e a mãe. Não merecia toda esta amargura. Com o
tempo vai passar, e com uns amigos como vocês. Não tenho a menor dúvida!
- Vamos aguardar que eles
cheguem para nos pormos ao caminho.
- Manuel tu vai devagar,
porque o meu carro é velhinho.
Manuel ri – Vamos a 200!
Só ri.
Uma hora passada, lá
vinham eles estrada abaixo.
João segreda a Diana. –
Não vejo a hora de estarmos sós, só nós os dois.
Diana sorri e abraça forte
João.
A primeira a falar é Maria
– Já chegamos, quando quiserem podemos partir.
Paula agradece a Maria o
suposto emprego.
Maria responde. – Não me
agradeças ainda, esperemos que nestes dias não tenham arranjado ninguém.
Diana olha desconfiada
para Paula, e pensa para consigo é uma mulher linda.
João ao perceber o olhar
de Diana, enlaça esta e aperta-a mais para si.
Segreda-lhe – Só tenho
olhos para ti, nunca duvides do meu amor.
Diana sorri.
Dirigem-se aos carros e
partem, caminho de Lisboa, via A23.
Já dentro do carro Manuel
diz. – Não quero ninguém a desmaiar.
Todos riem e olham para
Carlos. Este fica incomodado.
- Já estou melhor. Quem
sabe um dia isto passe!
Responde João. – O dia que
tiveres coragem de assumir o amor que sentes por alguém!
- Amor! Não sinto amor por
ninguém.
- Pois não! Eu também não!
Retribui João.
- Tu não? Diz Diana.
- É uma maneira de dizer,
pela pessoa dele não.
Maria já farta da conversa
e a ver que Carlos estava angustiado fala.
- Manuel põe algo que se oiça.
João começa logo a cantar,
e agarra a mão de Diana.
“Tu eras aquela que eu
mais queria, para me dar algum conforto e companhia,………………”
- Não se esqueçam de me
convidar. Quero ser o padrinho.
- Estás convidado. Quando
a Diana aceitar o pedido que lhe fiz, há casamento.
- As tuas meninas podiam
levar as alianças.
- Iam ficar contentes,
aquelas “vassourinhas”.
Manuel de vez em quando
olhava pelo retrovisor a ver se as tias vinham atrás, quando as deixava de ver,
abrandava.
Chegaram todos bem a
Lisboa.
Manuel parou primeiro na
casa de Carlos.
Carlos despede-se dos seus
companheiros de lugar João e Diana dentro do carro.
Manuel e Maria saíram para
se despedir deste.
Carlos tirou o seu saco da
bagagem e despede-se de Manuel. Este regressa ao carro.
Maria pede a Carlos que
não se distancie deles, principalmente dela.
Este diz que assim fará.
Carlos beija Maria na
face, esta segura-lhe a cabeça e beija-o nos lábios. Carlos retribui o beijo e
o afago e ficam assim alguns minutos, perdidos naquele beijo.
Lá dentro João disse. –
Será que é agora.
Manuel responde. – Já não
é o primeiro, lá em casa deram vários.
Diana não consegue
responder.
- Se gostam um do outro,
se sempre gostaram, os que os separa. Diz João.
- Não sabia que a minha
irmã gostava ou tinha um fraquinho pelo Carlos!
- Nunca me constou!
- Já é antigo. Responde
Manuel. – Sempre soubemos desde miúdos, que nutriam paixão um pelo outro. Nenhum
nunca assumiu.
Maria separa-se de Carlos,
este passa-lhe a mão pelo rosto e ela segura-lha.
- Mando-te uma mensagem
logo.
- Fico à espera.
Maria entra no carro, e
todos fazem adeus a Carlos.
Décimo
Nono Capítulo
Carlos entra no prédio. O
apartamento de Carlos era nas Avenidas Novas, situado numa das zonas mais
privilegiadas da cidade. Tinha 4 assoalhadas. As cores eram suaves tons pastel,
a decoração pensada ao pormenor, tudo encaixava minuciosamente nos sítios. Os
móveis eram preto e branco do mais moderno e elegante. Nada estava fora do
lugar. Tudo tinha executado com amor, só ele não podia amar.
Novamente a melancolia se acerca dele. Sozinho
pensa em Maria. Estes dias com ela fizeram renascer aquele amor, que ele
pensava estar enterrado.
O problema é que aquela infracção
horrenda que ele praticou em criança, não deixaria que alguma vez pudessem
ficar juntos.
Tinha 35 anos, estava na
altura de esquecer aquele dia horrível porque passou. Mas, seria que Maria
algum dia lhe perdoaria.
Viver com este segredo há
26 anos, era uma tortura, não fosse o amigo “Carlos” com quem partilhava este
problema, já o teria levado à loucura.
Agora “Carlos” tinha dito
adeus. Estava por sua “conta, peso e medida”.
O seu coração batia por
Maria. Amava-a (sempre a tinha amado)! Nunca tinha olhado para outra mulher,
nem sentido esta sensação por ninguém.
Carlos estava mais
confiante, no dia seguinte iria falar com o seu psicólogo e colocar-lhe estas
dúvidas todas. Queria falar. Tinha de falar.
Vigésimo
Capítulo
Manuel, deixa Maria, Diana
e João em casa destas na zona de Campo de Ourique. E desloca-se para a sua casa
na área do Restelo, vivia numa moradia de dois pisos com piscina, rodeada por
um enorme jardim. A zona era tranquila e considerada como zona nobre da cidade.
A vivenda era espaçosa e tinha sido toda remodelada, havia pouco tempo.
Desde que as gémeas
nasceram, instalou o seu escritório e a sua esposa o consultório. Para assim
poderem estar mais perto das bebés.
Maria, Diana e João entraram
em casa, Diana dirigiu-se de imediato ao quarto, para arrumar as suas coisas,
pois nesse dia já pretendia ir ficar com João.
O apartamento era
agradável, de 3 assoalhadas, duplex. Completamente remodelado, inserido num
prédio de traça antiga. Os tectos eram rústicos, e na parte de cima tinha uma
clarabóia que deixava entrar uma luz maravilhosa. À noite Maria ficava horas a
ver as estrelas. E estava localizado num dos bairros mais nobres de Lisboa.
Como Maria trabalhava nas Amoreiras, muitas vezes fazia o percurso a pé de casa
para o trabalho e vice-versa.
João comenta com Maria, - O
teu apartamento é deslumbrante, espero que a Diana não fique triste com o meu.
Habituada ao luxo, vai para uma casa que quase nem móveis têm.
- Ela ajuda-te a
mobilá-lo. O teu prédio assim como o do Carlos são lindos.
- Sim moramos perto, mas a
minha casa ao pé da dele, deixa muito a desejar. A minha sem móveis, mas com
pranchas. Ri-se.
- Nunca vi uma casa como a
do Carlos. Tudo no sítio e por ordem. É mesmo vulnerável. Cada vez está mais
solitário. O sofrimento na cara é visível, sempre angustiado.
- Às vezes toco-lhe à
campainha para ir beber um copo. Nunca o consegui arrastar para uma noitada.
Poucas vezes me manda subir. Quando subo tem a casa numa arrumação, que até me custa
pisar o chão.
- Temos que sair um dia
destes João, e levá-lo connosco.
- Penso que só tu
conseguirás entrar naquele mundo. Estará com uma depressão? Hoje em dia é a
doença da moda.
- Se for, temos de o
ajudar e talvez convence-lo a ir a um médico. A cara de Maria fica triste.
- Rapariga anima-te. Mas
não o abandones. Não quero ver nenhuma notícia de que O Carlos se matou. Está
mais para lá do que para cá.
- Vira essa boca para lá.
Quem sabe não esteja a sofrer por alguém que o abandonou?
- Abandonou! Ou nunca teve
coragem de lhe demonstrar o amor que tem por ele. Sim Maria tu!
- Ele nunca demonstrou. Só
me beijou uma vez. O dia em que chegamos a Lisboa, e nos separamos cada um para
seu lado. Nunca mais me procurou.
- Também tenho culpa! Nós
de vez em quando encontrávamo-nos e saíamos, mas esquecemo-nos sempre do
Carlos.
- Esquecemos! Não, eu e o
Manuel nunca nos esquecemos, ele é que nos afastou.
Entretanto chega Diana com
um saco.
- Já embalei algumas
roupas. Depois venho buscar mais.
Prontos para sair de sacos
na mão.
Maria tira o portátil a
Diana.
- Este ainda fica. Tenho
de ver o que o pai tinha pendente. Deve ter aqui algumas coisas que tenhamos de
enviar para o Fernando.
- Mas depois não te
esqueças, fica para mim.
- Não o quero, é todo teu,
fica já partilhado. Maria ri.
Beijam-se e despedem-se
com um abraço.
- João trata bem da minha
menina.
- Fica descansada. Vou
tratá-la como uma princesa.
Vigésimo
Primeiro Capítulo
No dia seguinte, Carlos
foi trabalhar. Mas, não esqueceu de telefonar para o consultório do seu médico.
- Fala Carlos Pereira,
preciso de uma consulta. O Dr. Abel tem vaga hoje?
- Deixe-me ver a agenda do
Dr.
A recepcionista põe o
telefone em espera, e Carlos ouve a música. Era agradável e suave. Aqueles
instantes foram um encanto, estava completamente fascinado pela melodia.
- Sr. Carlos está aí?
- Sim, diga.
- Sim, o Dr. Tem vaga às
17h.
- Aí estarei. Bom dia
- Tenha um bom dia Sr.
Carlos, cá o aguardaremos.
Carlos concentra-se no
serviço. Tinha muitos processos pendentes. Os dias, em que esteve fora, os
colegas foram acumulando trabalho em cima da sua secretária.
Tinha de ligar para os
seus clientes, era gestor de conta de várias entidades colectivas e pessoas
particulares. Era um dos melhores.
Como ele dizia, “os
problemas ficavam à porta do trabalho”. As pessoas não tinham culpa das suas
complicações.
O dia passou ameno e
rápido, até conseguiu sorrir para alguns colegas, quando estes lhe perguntavam
algo, ou lhe iam entregar documentação.
Alguns comentavam, - “Que
teria acontecido nestes dias?”
Outros, - “O Carlos viu
passarinho novo.”
Estavam todos
estupefactos. O calado do Carlos, até conversou com um colega à hora do almoço.
Chegadas as 16,30h, o
Carlos saiu. Ele que ficava sempre até muito mais tarde. Mas nesse dia estava
decidido tinha de partilhar o segredo com mais alguém. Estava na hora de
assumir o erro do passado, que estava sempre de volta à sua memória para o
atormentar.
Vigésimo
Segundo Capítulo
Carlos dirigiu-se ao consultório
do Dr. Abel com passadas largas, sem olhar para lado nenhum.
O objectivo tinha de ser alcançado,
havia mais de um ano que não o consultava.
Tinha desistido de se
libertar, este ano que passou, tinha sido muito duro para ele.
Muitas vezes pensou em por
termo à vida, mas nunca conseguiu. O seu amigo “Carlos” estava sempre presente
nessas horas.
Quem seria ele?
Era Deus não tinha
dúvidas. Sempre esteve e está ao pé dele. Sabia tudo acerca dele. Tinha
presenciado o momento, mas não o tinha conseguido salvar nessa hora.
Um dia disse-lhe “Pensa
Carlos há provações e lutas porque temos de passar, e Deus põe-nos à prova para
ver a nossa reacção, força e fé. E saber até onde se consegue lutar com o
coração e a coragem”. “Se conseguires sobreviver, ficarás mais forte e
conseguirás alcançar os teus objectivos, e vencer os teus fantasmas”.
Era nisso que Carlos agora
pensava, alcançar os seus objectivos. Contar tudo a Maria e ela que decidisse o
que entendesse.
Agora iria expor toda a
situação ao médico. Queria falar, tinha de falar. Tinha de abrir o seu coração.
Não conseguia sofrer mais.
A penitência a que se
tinha proposto, já tinha ultrapassado todos os limites. Será que não tinha
direito a amar. “Carlos” dizia que sim.
Tinha chegado ao
consultório. Pensou para com ele, “ou vai ou racha, não há como voltar atrás”.
- Boa tarde. Cumprimentou Carlos a
recepcionista.
- Tenho consulta agora.
- Boa tarde Sr. Carlos, o
Dr. Está à sua espera, pode entrar.
Carlos bate à porta, e
ouve-se lá de entro.
- Pode entrar.
- Boa tarde Dr. Abel.
- Boa tarde Carlos, há
muito tempo. Pensava que já me tinha abandonado. E sorri.
- Foi um ano complicado,
mas estou de regresso. E agora é para valer.
O Dr. diz a Carlos que se
sente na cadeira, e que está ali para o ouvir.
Carlos começou por falar
que era um rapaz alegre, brincalhão e que andava sempre com mais três crianças.
Eram conhecidos na aldeia como os quatro inseparáveis. Onde estava um estavam
todos. Sempre juntos, nunca se zangavam. Iam sempre juntos para a escola.
Encontravam-se sempre todos na casa de Maria à hora marcada. …………………………..…..
Passada uma hora, as
lágrimas de Carlos desciam pela face.
- Pronto Carlos por hoje
chega. Já alcançou uma vitória, conseguiu que esse silêncio que estava guardado
a sete chaves, se soltasse.
- Gostei, vamos ter um
Carlos novo. Não se pode recriminar, por uma culpa que não é sua. Você
simplesmente foi um dos lesados. Aquele que assumiu a culpa dos outros. E não
fez nada!
- Para a próxima quero ver
aqui um Carlos renascido, e se possível traga consigo a Maria. A mulher a quem
você deu o coração, mas a quem nunca teve coragem de contar o sucedido.
Culpou-se sem nunca ter feito nada. Foi fiel à palavra que deu.
Vigésimo
Terceiro Capítulo
Maria estava em casa sozinha,
triste e pensativa. Os seus pensamentos recaíam em Carlos. Que estaria ele a
fazer? Teria ido trabalhar? Disse que lhe mandava uma mensagem, mas não o fez.
Pegou no telemóvel,
seleccionou o número dele e carregou. Estava a chamar.
Carlos pegou no telemóvel.
– Olá Maria. Esta, já tinha desligado.
Carlos pensou, “porque
teria desligado Maria”.
Carlos, ligou.
Maria atendeu ao primeiro
toque.
- Olá Carlos.
- Porque desligas-te?
- Não sabia o que
dizer-te, mas queria ouvir a tua voz.
Carlos responde, - Tenho
saudades tuas, muitas, muitas. Não imaginas.
- Queres vir cá a casa.
Carlos fica apreensivo.
- Vou já para aí.
Maria ficou ansiosa.
Também ela tinha saudades de Carlos. Aquele beijo, que deram aos dezoito, nunca
mais o esqueceu. Mas tanto ela como Carlos eram uns teimosos, nenhum dos dois,
assumiu o que sentiam.
Todos os relacionamentos
que teve, foram passageiros. Por vezes quando estava com alguém, vinha-lhe à
memória o passado, Carlos e aqueles olhos azuis que a atormentavam.
Correu para a sala, arrumou
as almofadas do sofá e deu um jeito no compartimento.
Foi à casa de banho pôs um
pouco de rímel, passou um pouco de rouge nas maçãs do rosto para dar um
colorido e corrigir certas irregularidades. Não que ela as tivesse, mas estava
um pouco pálida. Assim dava-lhe uma aparência mais saudável, colocou também
gloss nos lábios para dar brilho e volume.
Vestiu um vestido de malha
de licra de cor preta, com um decote acentuado e justo, que lhe marcava os
contornos do corpo e aplicou um pouco de perfume. Estava pronta para receber
Carlos, além disso estava linda e deslumbrante.
Porque estaria ela a
arranjar-se desta maneira, o Carlos nem repararia. Colocou um CD de música
suave.
Vigésimo
Quarto Capítulo
Carlos toca à campainha.
- Quem é, diz Maria.
- Sou eu, podes abrir.
Carlos empurra a porta e
sobe as escadas até ao 3º andar, piso onde Maria habitava.
Maria já se encontrava no
hall das escadas.
Carlos vestia um fato
cinzento, uma camisa azul clara com uma gravata de risca azul e uns sapatos pretos.
Os olhos sobressaiam ao tom da camisa.
Carlos olha para ela, e
exclama.
- Estás maravilhosa, diria
deslumbrante. A mulher mais linda que já alguma vez vi.
Maria cora, e beija Carlos
na face.
- Tu também estás lindo,
aliás és sempre lindo, pena estares sempre triste.
- Estás a tentar
seduzir-me? E sorri.
- Se continuas a
elogiar-me dessa maneira, fico sem palavras. Mas, adorei o teu sorriso.
Carlos entra e Maria fecha
a porta.
- Vamos aqui para a sala.
- Está como me lembro.
- Pois, à mais de um ano
que não vens cá!
- Também não me convidaste?
- E, é preciso? Os amigos
estão sempre convidados.
Carlos retira o casaco e
fica em camisa.
Sentam-se no sofá lado a
lado e continuam a conversar.
Carlos estava mais
conversador, mas os olhos dele não se desviavam de Maria. Estava mais ousado.
Maria diz que estava a
sentir-se sozinha. Como ele sabia, no dia anterior Diana tinha ido morar com
João. Já estava habituada a alguém conversar com ela, sentia-se só e deprimida.
- Quer dizer que foi por
estares só, que me ligaste?
- Não Carlos, não penses
isso! Precisava de ouvir a tua voz. Tinha saudades tuas. Não consigo neste
momento explicar-te o porquê! Fazes parte da minha vida, não me abandones.
Carlos puxa Maria para si
e abraça-a. Maria aceita o abraço e encosta a sua cabeça no ombro dele. Os
corações batem aceleradamente.
Os seus corpos estavam
agora mais próximos. Beijaram-se desesperadamente. As línguas giravam e exploravam
o interior das suas bocas. Beijavam-se com sofreguidão e acariciavam-se
mutuamente.
Carlos abriu o vestido de
Maria, e este caiu-lhe aos pés. Maria abre a camisa de Carlos, e este pega
Maria ao colo e dirige-se par o quarto.
Carlos deita Maria em cima
da cama, e desliza as suas mãos para os seios desta. Os seios de Maria estavam
tesos e Carlos beijou-os.
Estavam agora nus e
beijaram-se uma e outra vez, agora mais lentamente.
Maria desejava-o, mais do
que alguma vez desejara alguém.
A respiração de Carlos era
agora mais ofegante, e estava sedento do amor de Maria.
Carlos penetrou Maria
lentamente, queria recordar o momento, a primeira vez. A intenção era que fosse
um momento único, que ficasse para sempre na memória deles. Uma recordação
agradável de se relembrar.
Esta sim deliciosa. Esta
lembrança, queria-a para sempre na sua mente.
Maria sentia algo
diferente, agradável. As suas ancas moviam-se agora mais depressa. Ela sentia
cada estocada de Carlos, enquanto o recebia uma e outra vez. Aquelas mãos que a
acariciavam, suave, doce e loucamente.
Havia uma cumplicidade de
afectos, carícias, ternuras, prazeres, beijos, toques, estavam num estado de
excitação plena. Juntos atingiram o clímax, vieram-se num orgasmo em
simultâneo. Da testa de Carlos caiam algumas gotas de suor, em cima dos seios
de Maria.
Maria nunca tinha sentido
nada assim antes. Tinha dado e recebido. Foi tudo perfeito. Seria isto o amor?
Carlos embora fosse magro,
tinha uns ombros largos e musculados, assim nu nem parecia o mesmo Carlos.
Tinham um corpo surpreendente e Maria estava completamente atónita.
Ficaram agarrados um ao outro
a ver as estrelas no céu. Nenhum conseguia dizer uma palavra. Só as suas bocas
se encontravam.
Dormiram agarrados um ao
outro. Sentiam-se felizes.
Carlos foi o primeiro a
acordar. Tinha de ir trabalhar.
Levantou-se e
encaminhou-se para a casa de banho. Tomou um banho, abriu as gavetas do
lavatório e descobriu uma escova nova e lâminas. Lavou os dentes fez a barba.
Aplicou creme de Maria no rosto e a sua pele ficou suave. Pensou para consigo
“creme de mulher” e sorriu.
Estava feliz, mas muito
ainda havia para conversar. Tinha dado um primeiro passo.
Dirigiu-se ao quarto, fez
uma festa no cabelo de Maria e esta acordou.
- Já levantado?
Carlos sorriu.
Como era bom acordar com
aquele homem lindo, aqueles olhos azuis, ainda por cima a sorrirem para ela.
- Sim, por estranho que
pareça tenho de ir trabalhar, hoje ainda é sexta-feira. Sorri.
Olha para o relógio e
comenta, - São sete horas, é cedo!
- Ainda quero passar em
casa para mudar de roupa e colocar um creme de homem na cara. A rir diz-lhe. –
Utilizei o teu.
- Os dois riem.
- Amanhã é sábado, se
quiseres que venha cá logo?
- Fico à tua espera. Mas
trás o creme. E dá uma gargalhada.
Carlos baixa-se e dá um beijo
molhado e demorado a Maria. Um beijo de amor.
Maria envolveu Carlos com
os seus braços delicados, e segreda-lhe ao ouvido. – Fico a contar as horas e
os minutos.
Mais um beijo ocorreu e
mais outro e outro e outro.
Vigésimo
Quinto Capítulo
Carlos entrou no carro,
olhou-se ao espelho e viu um Carlos diferente. O seu rosto e os olhos estavam
felizes e mais brilhantes.
Entrou em casa, e foi de
seguida para a casa de banho, tinha de ser rápido, pois não tinha muito tempo. Passou
a cara por água, a barba até tinha ficado razoável, mas escanhoou mais um
pouco. Colocou loção after shave e um creme hidratante.
Vestiu uma camisa branca,
colocou uma gravata tons de cinza e um fato cinza escuro. Calçou uns sapatos
clássicos pretos de atacadores. O vestuário, caía-lhe sempre na perfeição. Tudo
encaixava ao mínimo pormenor. Podia ser um homem triste, mas sempre bem arranjado.
Chegou à agência e
cumprimentou o vigilante com um sorriso no rosto.
- Bom dia Sr. Gomes. E
sorriu
- Bom dia Dr. Carlos.
O vigilante estava
estupefacto foi a primeira vez que o Dr. Carlos o tinha tratado pelo nome.
Cumprimentava-o sempre com bom dia, mas nunca tinha pronunciado o nome dele,
muito menos sorrido.
Cumprimentou todos os
colegas, até deu dois beijos à Andreia a secretária.
A manhã parecia que nunca
mais passava. Só olhava para o relógio, queria que as horas passassem rápidas.
O seu pensamento neste momento estava concentrado em Maria.
O tema de conversa dos
seus colegas, era só um. Que teria acontecido para Carlos estar assim. Tudo
murmurava. Carlos para cá, Carlos para lá…………………..
Chegou a hora do almoço.
Dirigiu-se ao restaurante onde costumava almoçar. Quando entrou, os seus olhos cruzaram-se
com os de Maria. Esta estava sentada a uma mesa à espera dele.
Encaminhou-se para a mesa
e beija Maria no rosto. Esta ia virar a cara, para lhe dar um beijo nos lábios,
mas não o fez. Ficou de semblante pesado.
- Olá Maria, fico contente
por te ver. Não via a manhã passar.
Maria responde. – Não
parece! Nem um beijo me dás! Tens vergonha ou há alguém aí que nos possa ver e
ficas em maus lençóis.
Carlos segura o rosto de
Maria e dá-lhe um beijo apaixonado.
- Nunca duvides de mim.
Temos muito que conversar, mas por agora quero desfrutar de ti.
Agarra-lhe a mão e
beija-a.
Escusado será dizer que
todo o restaurante está de olhos postos neles.
Pedem o almoço e vão
conversando. Entretanto toca o telemóvel de Maria.
Maria olha para o visor e
vê que é Diana.
- Sim, sua desnaturada,
estou aqui sozinha, triste e sem ninguém com quem conversar. Sorri para Carlos.
- Mana desculpa. Queres
que vá para o pé de ti? A voz é triste.
- Não, estava só a
brincar.
- Assim gosto mais. Era
para informar que eu e o João, vamos passar o fim-de-semana a Vila Nova de
Milfontes. Queres vir?
- Não divirtam-se.
- Mas não ficas triste!
- Claro que não, vou por a
leitura em dia. Olha para Carlos e sorri.
- Beijos, boa viagem.
Desliga e Carlos está se a
rir.
- Com que então vais por a
leitura em dia!
Os dois riem.
Acabam de almoçar e Carlos
tem de voltar para a agência.
- Vais para casa?
- Não. Vou fazer umas
compras lá para casa. Senão não temos nada para comer.
- Depois das compras,
podes vir aqui ter comigo.
- Queres?
- Quero.
Juntos dirigem-se para o
trabalho de Carlos. Vão os dois abraçados. Despedem-se com um beijo doce e
suave.
- Até já.
- Já volto.
Maria, dirige-se para o
carro, a felicidade era tal que parecia que dançava. Carlos continuava à porta
a vê-la afastar-se. “Como ele amava aquela mulher”. Porque teria esperado tanto
tempo?
Já lá diz o ditado, “Nunca
é tarde demais”. Ou seria?
O rosto de Carlos
transluzia de felicidade. O seu rosto sombrio estava agora luminoso. Mas ainda
havia um longo caminho a percorrer. Agora o problema seria contar a Maria, e
esta perdoar-lhe aquele segredo que guardava há tantos anos. Será que Maria
acreditaria nele, e o perdoaria.
Deixaria passar o
fim-de-semana, ou estaria na hora!
Vigésimo
Sexto Capítulo
À saída, lá estava ela
encostada ao carro.
Carlos dirige-se a ela e
beija-a.
- Preciso de passar em
casa para ir buscar alguma roupa. Vamos no meu carro? Ou vais atrás de mim e
depois vimos buscá-lo?
- Vou atrás. Depois posso
arrumá-lo perto de tua casa e amanhã vimos buscá-lo.
- Se quiseres, podemos
ficar hoje em minha casa. Gostava muito.
- Parece que adivinhas-te
que comprei um vestido e lingerie.
Os dois dão uma
gargalhada.
- É tão bom ver-te rir
Carlos.
- Maria, tenho tanto para
te dizer.
- Agora não, depois. Já
perdemos muito tempo, não é por mais uns dias que vai fazer diferença. Agora
quero-te só para mim.
Carlos abraça forte Maria.
Entram cada um em seu
carro.
Maria, estaciona mesmo em
frente ao prédio. Entra no carro de Carlos e seguem para a garagem.
Sobem no elevador até ao
quinto andar. Carlos prende Maria com o seu corpo, contra a parede, e beija-lhe
o pescoço.
-Olha que eu grito. E ri.
Os lábios dos dois
encontram-se. Os lábios de Carlos eram quentes e carnudos. As línguas exploravam-se
com carinho. Os corpos encaixavam um no outro. Um calor insuportável subiu por
eles acima.
O elevador chega ao piso e
a porta abre-se.
Carlos coloca a chave na
fechadura e abre a porta. Vira-se para Maria e pega nela ao colo.
- Porque estás a fazer
isto?
- Porque não aguento mais.
Quero amar-te!
Com as bocas coladas um no
outro, Carlos transporta Maria para o quarto.
Caem os dois em cima da
cama, tiram a roupa um ao outro com sofreguidão.
Carlos percorre com a
língua o corpo de Maria. Ela sente a excitação dele, em cima dela. Está cada
vez mais húmida e pronta para ele. Carlos apodera-se dos seus seios. Chupa um,
fazendo pequenos círculos com a língua à volta dele. Com a outra mão aperta-lhe
as nádegas e puxa-a mais para si.
Maria pega no membro dele
e começa a acariciá-lo. Impulsionando para cima e para baixo. Carlos geme, está
louco de desejo por Maria.
Maria pede a Carlos que se
vire de barriga para cima, este acede ao pedido dela. Ela beija-o e agarra o
pénis dele colocando-o na boca. Carlos fecha os olhos está ávido de desejo e a
sua respiração está forte e descontrolada.
Maria chupa o sexo de
Carlos e com as mãos vai acariciando-o. Carlos segura a cabeça de Maria e vai
empurrando. Carlos movia as ancas e suplicava pela sua boca. Estava quase,
agarrou nela, deitou-a de barriga para cima, sobe para cima dela e penetra-a.
Entra nela lentamente,
queria sentir a humidade de Maria. Começou a movimentar-se e a enterrar-se
dentro dela, cada vez mais rápido. Até que ambos atingem um orgasmo violento.
Os dois ficam abraçados um ao outro. Beijando-se.
- O que me fizeste Maria?
Estou ap….. Cala-se, e não diz o resto da palavra.
- Diz Carlos, quero
ouvir.
- Queres ouvir o quê?
- O que ias dizer.
Carlos olha para ela e
diz.
- Estou apaixonado, sempre
estive.
- Amo-te Maria.
Maria estava a sentir-se a
mulher mais feliz do mundo. Aperta Carlos contra si e segreda-lhe.
- Sempre te amei. Estive
sempre à tua espera. Mas, valeu a espera.
Carlos cala Maria com um
beijo carregado de emoção.
Vigésimo
Sétimo Capítulo
Carlos levantou-se. O
perfume de Maria permanecia na sua pele.
Dirigiu-se para a cozinha
para beber um copo de água. Sente o corpo de Maria agarrado a ele. Os dois
estavam nus. Maria aperta o traseiro de Carlos e comenta.
- O teu apartamento é um
regalo para os olhos.
- O apartamento! Ou eu?
Maria ri.
Carlos vira-se para Maria
e esta sente o membro dele já pronto para nova brincadeira.
- Calma aí, vamos tomar um
banho e comer qualquer coisa.
- Por falar em comer,
deixei as compras no carro.
- Tens comer que chegue no
frigorífico.
Maria abre o frigorífico,
este estava bem abastecido. Havia de tudo um pouco.
- Espectáculo! Como
consegues ter tudo tão organizado.
Carlos ri. – Tendo.
O telefone de Maria toca.
- É o Manel. Achas que
atenda?
- Atende.
- Olá Manel, como estás.
- Isso pergunto eu?
- Vai-se indo, ainda um pouco
triste. Mas a vida continua.
- As tuas pequeninas como
vão?
- Umas desinquietas. Agora
nada pára com elas.
- Agora têm com que se
entreter, não largam as tias.
- Diz à Paula que eu não
me esqueci dela. Segunda-feira quando for trabalhar, já vou falar com os
recursos humanos a ver se o lugar ainda está vago.
- Não foi por isso que te
liguei, foi para saber de ti.
- Eu sei que estás
preocupado comigo. És um grande amigo.
- De seguida vou ligar
para o Carlos.
- À sim, manda-lhe beijos
meus. Tapa a boca a rir.
- O João e a Diana foram para
Milfontes passar o fim-de-semana.
- Quem diria! O João
apanhado.
- Espero que se porte bem,
senão é comigo que tem de se haver.
- Fica bem, beijos.
- Beijos para vocês todos.
Desligam os dois ao mesmo
tempo.
- Carlos, ele vai ligar
para ti, não lhe disse que estávamos juntos.
- Não vou atender.
O telefone de Carlos toca.
Os dois riem.
Maria e Carlos decidem
fazer uma salada de atum. Enquanto ela lava a alface e o tomate. Ele põe dois
ovos a cozer e abre as latas de atum.
Coloca uma toalha branca
na mesa, do mais imaculado que Maria já viu.
Enquanto vão preparando o
jantar, vão conversando.
Maria num impulso, pergunta
a Carlos porque é que ele se afastou dela e se tornou tão frigido.
Carlos baixa a cabeça e
diz.
– Maria o que tenho para
te contar não é nada agradável. Só peço que quando te disser tudo, consigas me
perdoar.
_ Não quero saber nada por
agora. Estes dias são só nossos. Depois contas-me.
- Combinado.
- Combinadissimo.
Sentaram-se frente a
frente para jantar. Deliciaram-se com aquela salada, que mais parecia um
“manjar dos deuses”.
- Carlos, vamos para minha
casa? Se, não temos de ir buscar os sacos com a comida ao carro.
- Não estás aqui bem?
- Nunca me senti tão bem,
como me sinto aqui contigo.
- Então passamos aqui esta
noite, depois amanhã vamos para tua casa. Eu vou lá abaixo buscar os teus
sacos.
- Não te esqueças das
minhas roupas. Quero mostrar-te o que comprei.
Carlos chega-se mais para
Maria e beija-lhe o pescoço, enquanto uma mão lhe acaricia os seios. –
Prefiro-te assim nua. E ri.
- Vou lá abaixo, mas
quando chegar quero a sobremesa.
Maria dá uma gargalhada.
Carlos veste uma t-shirt e uns calções e vai ao
carro.
Vigésimo
Oitavo Capítulo
Carlos e Maria enquanto viam
um filme que estava a passar na televisão, comiam pipocas, beijavam-se e
acariciavam-se.
Carlos estava feliz, como
nunca estivera. Era agora um outro homem. A vida parecia que lhe começava a
sorrir.
Que mais poderia desejar,
tinha um bom emprego, uma boa casa e a mulher por quem sempre suspirara.
Estava tão apaixonado.
Tinha sido um cobarde, ele sabia-o.
Mas, como iria Maria
reagir quando lhe contasse o que se passara com ele.
Acreditaria nele! Ou, afastara-lo
para sempre da sua vida. Tudo dependia de Maria o perdoar ou não.
Ainda eram novos e tinham
a vida pela frente.
Deitaram-se, fizeram amor
e dormiram abraçados um ao outro.
Acordaram já era tarde. O
sol entrava pela janela, estava um dia radioso. Levantaram-se os dois ao mesmo
tempo e foram tomar banho juntos.
No banho iam-se
acariciando e falando palavras de amor.
Tomaram café e torradas.
Estavam prontos para sair.
- Maria, preciso de fazer
umas compras, depois vou ter a tua casa.
- Vês algum problema, não
ir contigo já?
- Claro que não.
Compreendo que tenhas que fazer. Baixa os olhos meio tristes.
Carlos com a sua mão
levanta o rosto de Maria, e comenta.
- É uma surpresa para ti.
- Não te quero triste meu
amor. E beija Maria sofregamente.
Carlos dirigiu-se a uma
ourivesaria. Comprou um fio de ouro, e um coração onde mandou gravar o nome
dele e de Maria. Enquanto faziam a gravação, dirigiu-se a uma florista ali
perto.
Comprou um ramo de rosas,
e no cartão escreveu
“Para a mulher da minha
vida. Amo-te Maria.”
“Ass. Carlos”
Vigésimo
Nono Capítulo
Maria chega a casa e quando
está a arrumar a secretária, depara-se com o portátil do pai.
Abre o computador. Novamente
fica apreensiva com a foto do ambiente de trabalho.
Quem seria aquele homem?
Porque teria o pai aquela foto no ambiente de trabalho, e não uma foto dele com
ela e Diana?
Tantas perguntas, que
nunca teriam resposta. Ou será que encontraria respostas.
Começa a examinar todas as
pastas. Os meus documentos, estavam divididos em as minhas imagens, fotos,
ofícios, cartas…..
Foi abrindo ofícios e mais
ofícios, até que de repente pára num. Estava guardado com o nome “Aos meus
amores Maria e Diana”.
Maria ficou inquieta. Abro,
não abro, abro, não abro…….. E assim ficou, não sabe se passaram minutos se
passaram horas.
“Coragem Maria, o que for
será”.
Maria começa a ler:
“Aos meus amores Maria e
Diana escrevo estas poucas palavras.
Palavras que guardo dentro
do coração, é por vos amar tanto que quero que saibam o que me custou a escrevê-las.
A verdade sobre mim e a morte
da vossa mãe. Sim porque fui eu o culpado da morte dela.
Maria exclama em voz alta
– Culpado!
“Quero que me perdoem um
dia pela morte da vossa mãe.
Ela descobriu aquilo que
eu não queria assumir. Mas a verdade é que se matou por minha causa. Apanhou-me
aqui em casa com o meu amigo/amante. Sim, apaixonei-me por um homem. Uns dias,
ele vinha ter comigo de manhã, outros dias, era eu que ia ter a casa dele.
Ele vivia numa aldeia aqui
próxima.
Creio que já perceberam com
estas poucas palavras, que eu sou homossexual.
Naquele dia. Naquele
fatídico dia, ele tinha vindo ter comigo.
As lágrimas de Maria
escorriam pela face abaixo.
“A vossa mãe saiu para o
trabalho, e ele estava à porta à espera. Nada previa que voltasse a casa. Nem
sequer nenhum de nós ouviu o barulho do carro a estacionar.
Quando demos por ela,
estava no quarto a presenciar a cena de dois homens nus em actos menos
próprios.
A vossa mãe saiu dali a
correr, completamente enraivecida. Saí a correr atrás dela, mas já não a
apanhei.
Só soube do acontecimento
quando a GNR foi à junta comunicar-me o sucedido. Tinha parado o carro à beira
da estrada e atirou-se do penhasco.
Maria soluçava agora.
“A verdade é que eu
amo-vos e amava a vossa mãe. Admitir que gostava de homens, que era
homossexual, ainda levou algum tempo, mas foi mais forte do que eu.
Ele completava-me, assim
como um homem completa uma mulher.
Depois da morte da vossa
mãe, tentei acabar com a minha própria vida.
Foi ele o pilar da minha
existência. Foi ele que me apoiou e ajudou a aguentar o remorso. Mas, nada já
era como dantes.
A campainha da porta toca.
Maria não sabe se a há-de abrir. A campainha toca novamente. Do outro lado da
porta ouve-se Carlos.
- Maria abre, sei que
estás aí.
- O que é que eu fiz?
Maria abre a porta, tinha
os olhos vermelhos de choro, o rosto molhado e o seu semblante era infeliz.
Carlos trazia nas mãos um
saco de papel e um ramo de rosas que deixa cair ao chão, e abraça Maria.
- Que foi meu amor?
Conta-me tudo?
Maria aperta Carlos e esta
chora sem conseguir parar.
Carlos acaricia Maria, até
esta se acalmar e conseguir falar.
- Não imaginas o que eu
descobri.
Leva Carlos até o
computador, e mostra-lhe o que está a ler.
“Esta descoberta deu-se,
era a Maria pequenina. Mas, o meu amor por ela e pela mãe era imenso. Nunca
iria ter coragem de lhes contar. Por isso vivia duas vidas.
Quando decidi que ia
contar tudo, nasceu a nossa doce Diana.
Desisti. Iria continuar como
até ali.
Depois da morte da vossa
mãe, abandonei o meu amigo. Penitenciei-me, nunca mais o vi.
Agarrei-me aos meus
alunos. Foram eles a minha tábua de salvação.
Ajudavam-me, sentia-me
activo e eu ajudava-os nas disciplinas em que tinham dificuldade. Isto sem
nunca ter levado nada pelas explicações.
Era a minha maneira de me
sentir vivo.
Aliás, há muitos anos
atrás torturei um amigo da Maria. Ele veio ter com ela para irem para a escola,
e deparou-se com o quadro a que a vossa mãe assistiu.
Disse-lhe que era normal,
mas que não podia contar a ninguém. Era o nosso segredo. Acredito que ele o
guardou, pois vocês nunca demonstraram saber. O rapazito é que apanhou um medo
de mim desgraçado. Sempre que me via, fugia a sete pés. Para ele também, as
minhas desculpas.
Não está a ser fácil
escrever.
Acredito que se estão a ler
estas linhas, estão em choque. Espero que um dia me perdoem.
Continuo a ser o vosso
pai, sei que não me vão apoiar, mas peço que me compreendam.
Maria e Diana vocês são as
únicas pessoas que amo no mundo.
António”
Carlos escondeu o rosto
entre as mãos. Estava em estado de choque. Não sabia o que dizer.
Afinal não precisava de
contar nada. Estava ali tudo descrito.
Maria, não queria
acreditar no que acabara de ler. Era mau demais para ser verdade.
O pai não podia ser o
monstro que ali estava relatado.
- Carlos ajuda-me, diz-me
que tudo isto não é verdade.
Carlos abraçava forte Maria,
e limpava-lhe as lágrimas.
- É verdade Maria,
infelizmente é verdade na parte que me toca.
- Fui eu que apanhei o teu
pai com outro homem, quando tinha nove anos.
- Obrigou-me a prometer
que era um segredo nosso que os outros também já sabiam. E que os segredos não
se revelam.
- Na altura acreditei que
sim, mas depois percebi que nem o Manuel nem o João sabiam. Eu não o conseguia
encarar e tinha medo dele. Eles pelo contrário brincavam com o teu pai.
- Quis-te contar, mas tive
medo que nunca acreditasses em mim. Por isso afastei-me.
- Quando me beijaste na
nossa chegada a Lisboa, pensei em conquistar-te, pedir-te namoro. Mas não te ia
conseguir encarar.
- Quando a minha mãe me
disse que a tua se tinha matado. Logo pensei, “Descobriu tudo”.
Carlos abraçava Maria, tentando acalmá-la.
Beijava as lágrimas salgadas que lhe escorriam pelo rosto.
- Ele errou, por não ter
assumido aquilo que era.
- Acredito que vocês um
dia o perdoariam. Se, se tivesse aberto com vocês. A tua mãe teria ficado
chocada, mas teria sido mais fácil do que ela descobrir dessa maneira.
- Ele já pagou pelo erro
que cometeu. Eu por muitos anos carreguei a culpa e a mágoa do segredo que ele
me fez guardar. Sentia-me doente e tinha medo de demonstrar aos outros o que
sabia e a vergonha que era.
- Só me resta perdoar-lhe
agora que sei toda a verdade. Assim como tu vais ter de perdoar um dia.
Maria não conseguia falar,
só ouvia Carlos.
- Agora sou eu que te vou
pedir para guardares um segredo.
Maria olha atónita para
Carlos.
- Um segredo, não era este
segredo!
- Sim e não.
- Tens de prometer que
guardas, não é por mal.
Maria olhou Carlos nos
olhos e respondeu. – Prometo.
- Este vai ser o nosso
segredo. Não vamos contar a ninguém. Já basta nós a sabermos. A tua irmã é
muito nova. Vamos deixá-la longe disto.
- Deixa que continue a
pensar no pai como até agora.
- Obrigada Carlos, depois
de tudo o que passas-te ainda o queres proteger.
- Todos cometemos erros,
quem não comete quer dizer que não faz nada.
- Assumir o que ele
assumiu aqui, é preciso ter muita coragem.
- Se guardei este segredo
vinte seis anos, poderei guardar outros tantos e tantos.
- Agora que sei que és minha,
nada mais importa.
- Vamos apagar tudo do
computador.
Carlos enlaça Maria
aperta-a contra si e murmura-lhe ao ouvido.
- O mundo podia terminar
agora que sei que fazes parte da minha vida para sempre.
- Como te amo Carlos.
Olharam-se olhos nos
olhos, era um olhar de esperança e de futuro.
Manuela Santos
Opinião da "Carla Cardoso Finalmente li o teu livro, e desde já dou-te os meus parabéns, pois para 1º livro superou as expectativas Muito giro. Acabei o livro com emoção e à espera de mais…….
ResponderEliminarUma leitura muitíssimo agradável, que se lê facilmente e com gosto, para mim um bom livro que descreve uma história de amigos, amor e segredos……
Quanto a estes, confesso que o início da história me induziu para um caminho que afinal não existia….Surpreendente!
Para finalizar, só te tenho a dizer para continuares esta tua paixão, pois é sempre um prazer ler aquilo que escreves! Bjs"
Opinião da "Isaura Pereira Acabei de ler o livro e gostei imenso!!! Muitos parabéns! Conseguiu criar uma boa história, com um bom enredo. Gostei da relação entre as personagens e do "segredo". Foi muito bom como conseguiu criar suspense! É uma leitura muito fluída e agradável. Se este é o seu sonho não desista! Tem aqui uma boa história! Parabéns! Beijinhos"
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