Esperar
por R Figueiredo
- Quem?
- Ali. Aquele velhote. Barba comprida, casaco preto. A fumar cachimbo.
Dois rapazes, sentados num banco de jardim, tentavam olhar dissimuladamente para um senhor sentado num outro banco mais à frente.
- Todos os dias?
- Sim. Todos os dias que passo por aqui, vejo-o sempre no mesmo banco. Mesmo quando está a chover, ele fica ali sentado com um guarda-chuva.
Abstraído do mundo que o rodeava, o velho aguardava pacientemente. Por vezes levava o cachimbo de madeira polida à boca, exalando o fumo distraidamente.
- Porquê? Não lê o jornal nem nada? Alguma vez o viste com alguém?
- Nada. Nem ninguém. Só o cachimbo.
Aquilo intrigou o rapaz. Não sabia se o amigo estava a dizer a verdade, se aquele velho realmente estava sempre ali sentado, mas se tal fosse verdade, certamente haveria alguma razão interessante para tal.
Mas o interesse foi fugaz. Afinal de contas, ele tinha os seus próprios problemas. Na verdade tinha apenas um problema, e o seu nome era Matilde. A Matilde tinha cabelos castanhos. Os olhos da Matilde eram azuis-claros. E quando falava, a voz da Matilde ressoava por todo o ser do rapaz.
Um dia ganhou coragem (não muita, mas alguma) e deixou uma carta no cacifo da Matilde. "Amo-te. Esperarei por ti no jardim municipal." E passou esse dia no jardim, andando impacientemente de um lado para o outro. Cada vez que parecia vê-la ou ouvi-la, o seu coração acelerava. Mas nunca era ela.
Preocupado que ela não tivesse recebido a mensagem, decidiu voltar no dia seguinte. E esperar. E no dia depois desse, o mesmo ritual. Todos os dias. E esperou. Esperou. Em vez de conhecer outras pessoas, esperou. Em vez de ter uma carreira que o fizesse feliz, esperou. Em vez de sarar o coração e voltar a apaixonar-se, esperou. Tanto esperou que se tornou velho.
Sentou-se num banco, à sombra. Os seus velhos ossos já não eram como antigamente. Tirou o seu velho cachimbo curvo, de madeira, e acendeu-o. Tão absorvido estava na sua espera, que se desligou do mundo que o rodeava.
E a Matilde, nem vê-la. Mas ele prometeu que esperava.
- Ali. Aquele velhote. Barba comprida, casaco preto. A fumar cachimbo.
Dois rapazes, sentados num banco de jardim, tentavam olhar dissimuladamente para um senhor sentado num outro banco mais à frente.
- Todos os dias?
- Sim. Todos os dias que passo por aqui, vejo-o sempre no mesmo banco. Mesmo quando está a chover, ele fica ali sentado com um guarda-chuva.
Abstraído do mundo que o rodeava, o velho aguardava pacientemente. Por vezes levava o cachimbo de madeira polida à boca, exalando o fumo distraidamente.
- Porquê? Não lê o jornal nem nada? Alguma vez o viste com alguém?
- Nada. Nem ninguém. Só o cachimbo.
Aquilo intrigou o rapaz. Não sabia se o amigo estava a dizer a verdade, se aquele velho realmente estava sempre ali sentado, mas se tal fosse verdade, certamente haveria alguma razão interessante para tal.
Mas o interesse foi fugaz. Afinal de contas, ele tinha os seus próprios problemas. Na verdade tinha apenas um problema, e o seu nome era Matilde. A Matilde tinha cabelos castanhos. Os olhos da Matilde eram azuis-claros. E quando falava, a voz da Matilde ressoava por todo o ser do rapaz.
Um dia ganhou coragem (não muita, mas alguma) e deixou uma carta no cacifo da Matilde. "Amo-te. Esperarei por ti no jardim municipal." E passou esse dia no jardim, andando impacientemente de um lado para o outro. Cada vez que parecia vê-la ou ouvi-la, o seu coração acelerava. Mas nunca era ela.
Preocupado que ela não tivesse recebido a mensagem, decidiu voltar no dia seguinte. E esperar. E no dia depois desse, o mesmo ritual. Todos os dias. E esperou. Esperou. Em vez de conhecer outras pessoas, esperou. Em vez de ter uma carreira que o fizesse feliz, esperou. Em vez de sarar o coração e voltar a apaixonar-se, esperou. Tanto esperou que se tornou velho.
Sentou-se num banco, à sombra. Os seus velhos ossos já não eram como antigamente. Tirou o seu velho cachimbo curvo, de madeira, e acendeu-o. Tão absorvido estava na sua espera, que se desligou do mundo que o rodeava.
E a Matilde, nem vê-la. Mas ele prometeu que esperava.
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