Nasceu em Angola, Luanda, no ano de 1966. Está em Portugal desde 1974 e vive no concelho de Mafra desde 2005.
É licenciado em Psicologia e Mestre em Educação de Adultos.
O Marcas de Leitura esteve à conversa com Paulo Santos autor de "A Linha do Tempo".
Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.
1)
Fale-nos um pouco sobre si. Quem é o Paulo?
É sempre difícil falar de mim, quando posso
sinalizar centenas ou milhares de pessoas que, de uma maneira geral, se
identificam comigo. Em todo o caso posso dizer que resulto de uma união de 2
pessoas de 2 continentes. Parte das minhas origens está em Lisboa, a outra em
Angola, onde nasci. A fuga da zona de guerra trouxe-me para a capital
portuguesa, de onde saí há 2 décadas, quando casei. Estou há dez anos neste
belo concelho de Mafra.
Em termos profissionais, sou licenciado em Psicologia, Mestre
em Educação de Adultos.
Pessoalmente, para além do gosto pela escrita e leitura, gosto da natureza em geral, como podem ver pelas imagens disponíveis na página https://www.facebook.com/Alinhadotempo.
Devem estar a pensar: “mas para um psicólogo, onde andam … as pessoas?”. Bom, essa é a parte que fica reservada. Gosto de estar na vida de forma discreta mas intensa.
Pessoalmente, para além do gosto pela escrita e leitura, gosto da natureza em geral, como podem ver pelas imagens disponíveis na página https://www.facebook.com/Alinhadotempo.
Devem estar a pensar: “mas para um psicólogo, onde andam … as pessoas?”. Bom, essa é a parte que fica reservada. Gosto de estar na vida de forma discreta mas intensa.
2) Como começou a sua paixão pelos livros e o gosto pela
escrita?
Curiosamente, perto de
terminar o ensino secundário. Aos 16 anos, em conjunto com uns colegas, fiz uma
peça de teatro sobre o julgamento de Sócrates e que se assumia como um desafio
lançado pela Professora da disciplina de Filosofia, mas que acabou na gaveta
(na altura não havia computadores!). Fui escrevendo textos soltos e versos, mas
nunca lhes atribuí grande importância. A paixão foi consolidada, pois, quando
ler e escrever deixou de ser uma obrigação escolar, o que me leva a refletir se
de facto o nosso ensino não deveria conquistar leitores e escritores, antes de
os direcionar para obras consideradas de referência da nossa literatura.
3) Faz da escrita a sua profissão ou não? Não.
Gosto de ter a escrita como
uma … “amante” da minha profissão, onde ocupo os espaços e tempos que aquela
deixa por preencher, depois de retirados os dedicados à família, amigos e ações
sociais. Em todo o caso, e muito honestamente, não me vejo a escrever, fazendo
disso uma profissão. O que gosto na escrita é a liberdade que ela me concede e
o prazer que me dá. Podendo fazê-lo, só o faço quando me sinto inspirado e não
me parece que possa aplicar este princípio num contexto profissional. Sou um
“intruso” dos meios literários que nem seguiu a área de letras.
4) De onde surgem os seus personagens, imaginação ou realidade?
Para se ter uma ideia de
como surgem e a título de exemplo, direi que posso ir às compras na feira da
Malveira, ao fim-de-semana e não me lembrar de trazer todos os sacos onde
coloquei as frutas e legumes. No entanto, se alguma frase, postura ou episódio
se me deparar que me transporte ao que estou de momento a escrever, isso fica
registado! Gosto de andar livremente entre pessoas que conheço ou não, em
vários locais e contextos e a utilização de transportes públicos ajuda muito a
criar as minhas personagens. Estas surgem de uma combinação do que conheço e do
que imagino, mas também das minhas vivências.
5) A Linha do Tempo é o seu primeiro livro, ou tem outros editados?
A linha do tempo é o meu
primeiro romance publicado, embora quando vim morar para o concelho de Mafra, o
gosto pela leitura estava há muito enraizado e nessa altura senti necessidade
de conhecer um pouco mais sobre a localidade. Fiz então um levantamento
histórico da freguesia Venda do Pinheiro, depois de ter feito o mesmo no que
concerne ao Clube Desportivo da Venda do Pinheiro.
6) Como e onde surgiu a história e o título de A Linha do Tempo?
Um dia, comecei a escrever “A linha do tempo”
e só parei seis meses depois, quando concluí a obra. Basicamente foi assim,
correspondendo a um período de menor exigência a nível cognitivo. Gosto de ter
sempre várias coisas para fazer (em simultâneo) e assim comecei a juntar
palavras, frases, parágrafos e aos poucos a história foi-se compondo. A
princípio a intensão era tão-somente ocupar o tempo e a mente e não pensava em
escrever um livro. Escrevia nos transportes, quando estava à espera de alguém,
às vezes surgia-me uma ideia a meio da noite tão que forte que acordava e a
registava, enfim, a escrita invadiu-me. Um dia percebi que a história estava já
em mente e a partir desse momento, fui passando as ideias para o papel. O
título surgiu numa fase inicial, embora existissem outras opções próximas
daquela por que adotei.
7)Tem algum personagem favorito no livro?
Geralmente gosto mais dos
personagens secundários e/ou que fazem o trabalho de bastidores, tão fundamental
quanto muitas vezes desconhecido. Neste caso, Vanda, a mulher do personagem
principal, é a trave-mestra e por isso é a que mais aprecio.
8) Quando está a escrever um livro partilha a história com alguém para
se aconselhar?
Sim, para além da minha mulher,
tenho duas colegas de trabalho que são as minhas primeiras críticas e
conselheiras. Assim foi em A linha do tempo e também assim está a ser no meu
segundo romance, já concluído e em fase de apreciação.
9) Quando terminou de escrever o livro, qual a sensação?
Como já estava pensado há
muito, senti uma certa nostalgia. Apetecia-me continuar a escrever, pois
cria-se uma relação com a obra e é difícil convencermo-nos que aquela terminou.
Felizmente que logo outra história se começou a formar e foi então possível
entregar A linha do tempo aos leitores, para que dissessem de sua justiça.
10) Qual o seu autor e livro preferido? Segue o género literário do seu
autor preferido, ou adopta outro?
Eu leio continuamente (às
vezes mais que um livro no mesmo período temporal) e procuro sempre alargar o
conhecimento de autores e géneros literários. Desta forma, posso referir alguns
dos nossos escritores, como “A capital” do Eça de Queirós, passando por “As
esquinas do tempo”, da Rosa Lobato Faria. Por esse mundo fora, não faltam
obras-primas, desde “Os Capitães da Areia” do Jorge Amado, até “Diz-me Quem
Sou” da Júlia Navarro. Em relação ao género literário, não me atrevo, por assim
dizer, em tentar adotar o género literário de nenhum dos mestres que referi,
mas fico surpreendido e quase preocupado (embora feliz!), quando me dizem que
há algo de Eça nas linhas de A linha do tempo. Acho que a escrita deve espelhar
de forma genuína o que queremos dar a conhecer aos outros. Como em qualquer
arte, é possível aferir se uma obra tem ou não qualidade, mas já quanto ao
gosto pessoal, este é muito subjetivo e ainda bem que assim é. Costumo dar como
exemplo o nosso Prémio Nobel, José Saramago, que muitos veneram e com que
outros não se identificam de todo. Para mim, enquanto leitor, o importante é
haver quantidade, qualidade e diversidade e isso depende de quem escreve e
decide partilhar, naturalmente.
11) Qual a sensação, ao deslocar-se a uma superfície comercial, e ver os
seus livros à venda?
Infelizmente, ainda não
experimentei essa sensação. A Chiado Editora, que decidiu apostar na obra de um
desconhecido dos meios literários, como é o meu caso, entre outros tantos, tem
geralmente os livros disponíveis na sua Livraria Desassossego, na Rua de São
Bento, nº 34 em Lisboa (cuja visita recomendo!) e on-line, na Bertrand e Wook.
Sei por experiência própria que essa é uma desvantagem e por isso tento realizar
sessões de apresentação, sempre que se proporciona. Quando tal acontece, há
sempre uma componente solidária associada. Tem sido uma experiência fascinante.
12) Já alguma vez se deparou com alguém a ler um livro seu? Se sim, como
se sentiu?
Sim, embora se tratasse de
alguém meu conhecido. No entanto, a ansiedade e curiosidade estão lá e poderão
ser ampliadas, se me deparar com alguém que não conheça e que esteja a ler o
livro. Em bom rigor, não posso deixar de dizer que o livro contém, para grande incómodo
meu, algumas “gralhas” que passaram “invisíveis” a quem o leu antes da sua
publicação. Há quem dê por elas, para outros passa despercebido, mas a
explicação que me dão, ou seja, que se deixaram envolver pela história e não
repararam, deixa-me sem argumentos. Em todo o caso, é algo que assumo total e
pessoalmente e que neste momento está ultrapassado, embora só se vá refletir
numa eventual próxima edição. Tudo isto é fruto da aprendizagem e da
inexperiência nestas lides.
13) Como vê o momento actual da Literatura em Portugal?
Uma análise ao momento
atual da Literatura no nosso país, implica focar vários aspetos. Começa desde
logo com o acordo ortográfico (ou desacordo!) que tanta “tinta” faz correr e
que desvia recursos e tempo em torno da questão. Urge envolver todas as partes
e chegar a um consenso o mais alargado possível. Depois temos uma diferença
clara entre quem tem forma de utilizar os grandes meios de divulgação para dar
a conhecer os seus trabalhos (como acontece com certas figuras públicas) e os
outros, que muitas vezes se socorrem de amigos, de familiares e das redes
sociais para uma divulgação que é mais circunscrita. Para termos uma ideia do
que chega diariamente ao mercado nacional, só a Chiado Editora publica uma
média de quase 2 livros por dia, isto para um país com 10 milhões de
habitantes, onde de acordo com um estudo recente realizado na Universidade do
Minho, 10% dos alunos do secundário nunca leu um livro até ao fim e 14% das
famílias dos participantes no inquérito não têm livros em casa. Se entrarmos
num espaço público, é muito possível que uma grande parte das pessoas esteja a
ler, confirmando assim que, primeiro o sabem fazer e depois que esse é um meio
importante para comunicar. No entanto, é provável que muitas dessas pessoas procure
informação no telemóvel ou no Tablet, ou mesmo esteja a folhear um jornal. A
ler um livro, estará eventualmente uma minoria, mesmo se o podem fazer
digitalmente. Eu diria que atualmente existe um mercado plural, em expansão,
mas que ainda deixa a desejar em termos de democratização da divulgação. A
aposta em novos escritores deve ser acompanhada de um conjunto de iniciativas,
locais, regionais, nacionais ou setoriais, junto dos públicos-alvo a que se
destinam as obras. Mas o grande desafio continua a ser colocar as pessoas na
rota da leitura de livros, com interesse e prazer.
14) Como vê a divulgação dos bloggers literários?
Constituem-se como uma
excelente forma de equilibrar a relação entre quem já é conhecido no mercado e
quem está a dar os primeiros passos, para além de dar a conhecer obras e seus
autores. A sua dinâmica e permanente atualização, bem como o acesso direto, sem
registos, publicidade que se sobrepõe e alertas vários, fazem destes espaços
uma mais-valia.
15) Quer deixar alguma mensagem
especial aos seguidores do blog Marcas de Leitura?
Creio que o mais importante
passa por garantir que o blog não se feche sobre si próprio, melhor dizendo,
sobre quem os gere e alimenta, sendo que a melhor forma de o fazer é partilhar
a sua existência com outras pessoas.
Para já fico-me por aqui e agradeço desde já a sua disponibilidade e simpatia, foi um prazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário