Implantação da República Portuguesa
A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português,
iniciada no dia 2 e vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910,
que destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal.
A subjugação do país aos interesses coloniais britânicos , os gastos da família real, o poder da igreja,
a instabilidade política e social, o sistema de alternância de dois partidos
no poder (os progressistas e os regeneradores), a ditadura de João Franco,
a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos e se adaptar à
modernidade — tudo contribuiu para um inexorável processo de erosão da monarquia portuguesa do qual
os defensores da república,
particularmente o Partido Republicano, souberam tirar o melhor proveito. Por
contraponto, o partido republicano apresentava-se como o único que tinha um
programa capaz de devolver ao país o prestígio perdido e colocar Portugal na
senda do progresso.
Após
a relutância do exército em combater os cerca de dois mil soldados e
marinheiros revoltosos entre 3 e 4 de outubro de 1910, a República foi
proclamada às 9 horas da manhã do dia seguinte da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa. Após a
revolução, umgoverno provisório chefiado por Teófilo Braga dirigiu os
destinos do país até à aprovação da Constituição de 1911 que deu início àPrimeira República. Entre outras mudanças, com a
implantação da república, foram substituídos os símbolos nacionais: o hino nacional e a bandeira.
Manuel de Arriaga
Manuel
José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, Matriz, 8 de Julho de 1840 — Lisboa, 5 de Março de 1917) foi um advogado, professor, escritor e político
de origem açoriana. Grande orador e membro destacado da geração doutrinária dorepublicanismo português, foi
dirigente e um dos principais ideólogos do Partido Republicano Português. A 24 de Agosto de 1911tornou-se no primeiro presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo na
chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Exerceu aquelas
funções até 29 de Maio de 1915, data
em que foi obrigado a demitir-se, sendo substituído no cargo pelo mesmo Teófilo
Braga, que como substituto completou o tempo restante do mandato.
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira
Nasceu em 8 de Julho de 1840, na cidade da Horta,
filho de Sebastião de Arriaga e de D. Maria Antónia Pardal Ramos Caldeira de
Arriaga, ambos descendentes de famílias nobres açorianas.
Casou com D. Lucrécia de Brito Berredo Furtado de
Melo, neta do comandante da polícia do Porto e partidário das forças liberais à
data da revolução de 1820, de quem teve seis filhos, dois rapazes e quatro
raparigas. Faleceu em 5 de Março de 1917, com 77 anos de idade.
ACTIVIDADE PROFISSIONAL
Na Universidade de Coimbra, onde se formou em Leis,
cedo manifestou simpatia pelas ideias republicanas, o que provocou um conflito
insanável com o pai, que o deserdou e lhe deixou de custear os estudos. Para
sobreviver e pagar a Faculdade, teve então de dar aulas de Inglês no liceu.
Em 1866, concorreu a leitor da décima cadeira da
Escola Politécnica e da cadeira de História do Curso Superior de Letras. Não
conseguindo a nomeação para qualquer delas, teve de continuar, agora em Lisboa,
a leccionar a mesma disciplina de Inglês. Dez anos depois, em 26 de Agosto de
1876, já faz parte da Comissão para a Reforma da Instrução Secundária.
Simultaneamente, vai cimentando a sua posição como advogado, tornando-se um
notável casuísta graças à sua honestidade e saber. Entre as várias causas
defendidas destaca-se, em 1890,
a defesa de António José de Almeida, após este ter
escrito no jornal académico O Ultimatum, o artigo "Bragança, o
último", contra o rei D. Carlos.
Na sequência dos acontecimentos de 5 de Outubro de
1910, e para serenar os ânimos agitados dos estudantes da Universidade de
Coimbra, é nomeado reitor daquela Universidade, tomando posse em 17 de Outubro
de 1910.
PERCURSO POLÍTICO
Filiado no Partido Republicano, foi eleito por quatro
vezes deputado pelo círculo da Madeira. Em 1890, foi preso em consequência das
manifestações patrióticas de 11 de Fevereiro, relativas ao Ultimato Inglês.
Em 1891, aquando da revolta de 31 de Janeiro, já fazia
parte do directório daquele Partido, em conjunto com Jacinto Nunes, Azevedo e
Silva, Bernardino Pinheiro, Teófilo Braga e Francisco Homem Cristo.
Nos últimos anos da monarquia, sofre um certo
apagamento, dado que o movimento republicano tinha chegado, entretanto, à
conclusão que a substituição do regime monárquico não seria levada a cabo por
uma forma pacífica. Os republicanos doutrinários são, então, substituídos pelos
homens de acção que irão fazer a ligação à Maçonaria e à Carbonária.
Depois da proclamação do regime republicano foi então
chamado a desempenhar as funções de Procurador da República.
ELEIÇÕES E PERÍODO
PRESIDENCIAL
Foi eleito em 24 de Agosto de 1911, proposto por
António José de Almeida, chefe da tendência evolucionista, contra o candidato
mais directo, Bernardino Machado, proposto pela tendência que no futuro irá dar
origem ao Partido Democrático de Afonso Costa. O escrutínio teve o seguinte
resultado:
Manuel de Arriaga 121 votos
Bernardino Luís Machado Guimarães 86 votos
Duarte Leite Pereira da Silva 1 voto
Sebastião de Magalhães Lima 1 voto
Alves da Veiga 1 voto
Listas brancas 4 votos
Bernardino Luís Machado Guimarães 86 votos
Duarte Leite Pereira da Silva 1 voto
Sebastião de Magalhães Lima 1 voto
Alves da Veiga 1 voto
Listas brancas 4 votos
Durante a vigência do seu mandato tomam posse os
governos seguintes:
- João Chagas, que vigora entre 3 de Setembro e 12 de
Novembro de 1911.
- Augusto de Vasconcelos, entre 12 de Novembro daquele ano e 16 de Junho de 1912.
- Duarte Leite, entre aquela última data e 9 de Janeiro de 1913.
- Afonso Costa, entre a data anterior e 9 de Fevereiro de 1914.
- Bernardino Machado com dois governos seguidos, o primeiro de 9 de Fevereiro de1914 a
23 de Junho do mesmo ano, o segundo desta data a 12 de Dezembro de 1914.
- Augusto de Vasconcelos, entre 12 de Novembro daquele ano e 16 de Junho de 1912.
- Duarte Leite, entre aquela última data e 9 de Janeiro de 1913.
- Afonso Costa, entre a data anterior e 9 de Fevereiro de 1914.
- Bernardino Machado com dois governos seguidos, o primeiro de 9 de Fevereiro de
Assiste-se na época à divisão efectiva das forças
Republicanas. De 27 a
30 de Outubro de 1911, reúne-se, em Lisboa, o Congresso do Partido republicano
em que é eleita a lista de confiança de Afonso Costa, passando o partido a
denominar-se Partido Democrático. Em 24 de Fevereiro de 1912, por discordar da
nova linha política seguida pela nova direcção, António José de Almeida funda o
Partido Evolucionista, e dois dias depois, Brito Camacho, o Partido União Republicana,
divisão que, no entanto, pouco adiantará para a resolução das contradições
deste período deveras conturbado. O início da Primeira Grande Guerra vem
agravar ainda mais a situação, dando origem à polémica entre guerristas e
antiguerristas.
O Ministério de Victor Hugo de Azevedo Coutinho,
alcunhado de Os Miseráveis, que vigora entre 12 de Dezembro de 1914 e 25 de
Janeiro de 1915, não vem alterar em nada a situação, acabando por ser demitido
na sequência dos acontecimentos provocados pelo "Movimento das
Espadas", de âmbito militar, onde se destacaram o capitão Martins de Lima
e o comandante Machado Santos.
O Presidente Manuel de Arriaga tenta inutilmente
chamar as forças republicanas à razão, envidando esforços no sentido de se
conseguir um entendimento entre os principais dirigentes partidários. Goradas
estas diligências, não dispondo de quaisquer poderes que lhe possibilitassem
arbitrar os diferendos e impor as soluções adequadas e pressionado pelos meios
militares, vai então convidar o general Pimenta de Castro para formar governo
que é empossado em 23 de Janeiro de 1915.
O encerramento do Parlamento e a amnistia de Paiva
Couceiro vão transformar em certezas as desconfianças que os sectores
republicanos tinham acerca daquele militar, desde o governo de João Chagas onde
ocupara a pasta da Guerra e evidenciara uma atitude permissiva face às
tentativas monárquicas de Couceiro. A revolta não se fez esperar. Em 13 de Maio
do mesmo ano, sectores da Armada chefiados por Leote do Rego e José de Freitas
Ribeiro demitem o Governo que é substituído pelo do Dr. José de Castro, que
inicia as suas funções em 17 do mesmo mês.
O Presidente é obrigado a resignar em 26 de Maio de
1915, saindo do Palácio de Belém escoltado por forças da Guarda Republicana.
ACTIVIDADE PÓS PRESIDENCIAL
Manuel de Arriaga não conseguiu recuperar deste
desaire, morrendo amargurado dois anos depois, em 5 de Março de 1917. Foi
substituído pelo Dr. Teófilo Braga.
OBRAS PRINCIPAIS
Distinguiu-se principalmente como advogado e orador.
Alguns dos discursos políticos ficaram célebres, nomeadamente "O Partido
Republicano e o Congresso", pronunciado no Clube Henriques Nogueira em 11
de Dezembro de 1887, "A Questão da Lunda", na Câmara dos Deputados em
1891, "Descaracterização da Nacionalidade Portuguesa no regime
monárquico", em 1892, na mesma Câmara, "Começo de liquidação
final", "A irresponsabilidade do poder executivo no regime monárquico
liberal", e tantos outros. Contos Sagrados, Irradiações e Harmonia Social,
constituem exemplos da sua obra como filósofo e poeta.
A experiência como Presidente da República é-nos
contada na sua última obra, escrita após a experiência presidencial, intitulada
Na Primeira Presidência da República Portuguesa.
Sem comentários:
Enviar um comentário