Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 92
Editor: Chiado Editora
ISBN: 9789898389664
Dimensões: 147 x 211 x 3 mm
Encadernação: Capa mole
Excerto
"Numa noite quente de Verão Beatriz dormiu em
casa de Maria. Depois de um longo serão repleto de televisão e pipocas
deitaram-se. Lado a lado os seus corpos envolvidos em suor imploravam uma brisa
fresca, no entanto, não se distanciavam. Beatriz vestia uma singela camisa de
algodão, de alças finas, que deixava transparecer a zona do peito devido às
sucessivas lavagens. Por seu lado, Maria vestia apenas uma t-shirt comprida.
Desconheciam o motivo de tal proximidade. Após uns breves minutos de conversa
emudeceram, entreolharam-se e Maria suspirou. Subiu-lhes ao rosto a vermelhidão
do pudor. Era possível escutar o bater acelerado de dois corações, unidos por
um desejo de aproximação não compreendido. O amanhecer despertou a
vergonha. Não pronunciaram uma palavra sobre o acontecido. A tentativa
desesperada de retroceder no tempo distanciou-as, distância que se manteve até
ao aniversário de Maria."
A
minha opinião
A história passa-se numa pequena aldeia perto do Porto. E como todas as
aldeias, têm os seus costumes, características próprias, históricas e
ambiguidades. Os seus habitantes são agradáveis, mas preconceituosos.
Maria é uma jovem simples que sonha com um futuro risonho. Esperava
ansiosamente pelo dia em que completaria 18 anos (maioria de idade) a partir
daí ninguém a conseguiria deter. Seria a sua independência, o dia em que
fugiria para a cidade grande (Lisboa) onde tudo acontece. Maria tinha os sonhos
de qualquer adolescente.
Criada no seio de uma família humilde, mas sem afecto do progenitor, pois
tinha pretendido um filho varão, para continuar a sua geração.
Maria e Beatriz eram duas jovens que andavam na mesma escola. Maria sempre
fora uma criança sem amigos, mas encontrara em Beatriz a sua única e melhor
amiga. Nada as fazia separar.
Numa noite de verão com o calor que se fazia sentir, a aproximação dos
corpos, a emoção, o desejo, a luxúria e o suor que as envolvia, levou-as para
além do desconhecido, conduziu-as à paixão e a um desejo que nenhuma das duas
conseguia entender. Com o amanhecer avivou a vergonha e o remorso do que tinham
sentido. Maria não se arrependeu, mas Beatriz afastou-se dela.
Maria não imaginava o que viria a passar em Lisboa, os sonhos, as ilusões,
as fantasias e as virtudes se desvaneceriam, num tão curto espaço de tempo.
Aquele homem alto, moreno, bem vestido e de olhos verdes iria roubar a
meninice de Maria.
Maria teria de dar um rumo à vida, estava perdida na grande cidade. Sozinha
e sem dinheiro. Viu-se a trabalhar numa tasca onde recebia muito pouco. Foi
então que decidiu ir trabalhar á noite para um bar. Entrou assim na
prostituição.
A solidão, a saudade e a tristeza acercavam-se de Maria. O seu pensamento
estava sempre em Beatriz, o seu coração ficava apertado sempre que pensava
nela.
Maria arranja dois amigos que a vão ajudar, o Sr. Zé da Tasca e o Miguel
do bar.
Será que Maria ainda acredita numa esperança no futuro? Maria teria ainda um
longo caminho a percorrer.
A
autora destaca diversos motivos, aspectos, costumes e causas que ainda hoje chocam
muita da nossa sociedade, a homossexualidade, a prostituição, a alta roda financeira
e famílias de tradição.
Na prostituição a disputa pelo poder é grande. Conseguiria Maria afirmar-se
num mundo que desconhecia?
Conseguiria Maria apesar de ser homossexual entregar-se aos homens? Estaria
o trabalho acima do prazer? Seria uma profissional?
Maria e Beatriz vivem em mundos diferentes, alguma vez voltarão a se
reencontrar?
Terá a história destas duas almas gémeas um final feliz?
Embora estejamos numa sociedade liberal. Ainda há quem não aceite o
envolvimento entre seres do mesmo sexo, muito menos em aldeias do interior,
onde todos falam de todos e as mentalidades são tacanhas.
A história é curta, mas depreendemos todas as adversidades, sonhos e
pesadelos que a autora nos presenteia. Elucida-nos sobre a sociedade e a luta
das pessoas.
Por vezes temos livros de muitas páginas e uma história pequena. Não é o
tamanho do livro que faz a história.
A autora nota-se que escreve com alma, emoção e coração, e leva-nos para o
interior das páginas do livro. Comecei o livro e não consegui parar.
Recomendo e vou já pegar no Amor Entre Mulheres II.
Katherine Mateus, nasceu na Venezuela, no seio de uma família de ascendência portuguesa, e aí viveu até completar um ano de idade, altura em que adoptou Portugal como residência permanente. A sua actividade literária pauta-se pelas ideias de liberdade e respeito pela diferença, dando atenção permanente aos problemas reais e à tragicidade da vida humana, sem bucolismos. Estudiosa da alma humana, das relações, tem especial predilecção por temas controversos, espelho da sua personalidade literária.
Escritora por vocação, amante das artes, desvenda os mistérios da alma humana sem receios nem preconceitos.
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