Rui Conceição Silva nasceu em 1963 em Figueiró dos Vinhos, onde reside. É casado e tem dois filhos. Apesar de ter vivido em Coimbra, Tavira e Lisboa, é na sua terra que se sente completo, convivendo com os afetos e com os rostos de sempre.
Este seu primeiro romance é fruto da necessidade de falar da saudade triste da perda de alguém que se ama, mas também da reconciliação necessária com a vida e com toda a sua beleza.
Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.
1) Fale-nos um pouco sobre si?
Tenho 52 anos, sou casado com a Aldara e tenho dois
filhos extraordinários, a Diana, com 25 anos, e o Pedro, com 17. Moro em
Figueiró dos Vinhos, onde nasci e cresci. É a terra dos meus pais, dos meus
avós e dos meus bisavós, o lugar onde tenho as minhas raízes. Sou bancário de
profissão e a minha esposa tem uma Papelaria/Livraria. Infelizmente, não tive a
oportunidade de tirar um curso superior, pois os tempos eram difíceis para toda
a minha família. É uma das coisas que mais lamento, mas a vida manda mais em
nós do que nós nela. Apesar disso, sempre procurei colher o máximo de
conhecimento possível. Como um autodidacta, tentando enganar o destino. Acho
que me posso definir como um homem simples que procura ultrapassar os limites
da sua vida.
2) Quando começou sua paixão
pelos livros e o gosto pela escrita?
Desde pequeno que gosto de ler. Eu, o meu irmão Tózé e
o nosso amigo de infância, o Zé Batista, éramos grandes fãs da Biblioteca
Municipal, de onde trazíamos livros aos montes. Nesse tempo, a televisão só
tinha um canal, a RTP, pelo que tínhamos uma ânsia incrível de procurar saber
mundo através dos livros. De todo o tipo de livros, desde o Astérix ao
Sandokan, até enciclopédias e livros de poesia. E eu admirava todos os autores
que escreviam livros, eram os meus heróis secretos. No entanto, apenas comecei
a escrever livros há sete anos atrás. Até aí, escrevia apenas letras para
canções e pequenos contos e poemas, que tenho guardados em gavetas.
3) Qual o seu personagem
favorito e de onde surgem, imaginação ou realidade?
Do meu livro, gosto do Felismino Jardins, o velhote
que, após a morte da mulher, passou a viver num mundo próprio, no qual
imaginava que via cavalos, depois de perder a noção da realidade. Lembra-me um
pouco o meu avô materno, que sempre teve pequenos sonhos - que nunca
concretizou -, mas que, apesar das contrariedades da vida, manteve sempre o
sorriso e a esperança de dias melhores. Porém, e infelizmente, o meu avô nunca
saiu da sua pobreza, morrendo anonimamente, numa casa velha e triste. Talvez eu
tenha aprendido com ele que a vida pode ser uma madrasta injusta, que ignora
muitos dos nossos sonhos. Outra personagem que me diz muito, é o Edmundo, o
narrador do livro. Como diz, e bem, a Sofia Teixeira, no seu Blogue
BranMorrighan, este livro só foi possível porque vivi uma dor enorme: a de ter
perdido o meu amado irmão TóZé, que se suicidou num dia injusto e frio. Foi a
maior tragédia da minha vida, que me deixou à beira do abismo. Tínhamos apenas
catorze meses de diferença e éramos amigos imaculados, irmãos de toda uma vida.
Creio que coloquei essa tristeza no Edmundo, que também perde uma parte do seu
mundo, a filha que tanto amava. Por tudo isso, posso dizer que a realidade e a
imaginação andam de mãos dadas no meu livro.
4) Quando o Sol Brilha é o seu
primeiro romance, como se sentiu ao ser agenciado por uma grande Editora como a
Marcador?
A primeira reacção foi a de uma grande alegria. Não é
fácil uma Editora tão importante interessar-se pelo livro que escrevemos.
Depois, tomei consciência de que, a par dessa alegria, também existe a noção da
responsabilidade. A Marcador tem no seu catálogo escritores que admiro e, fazer
parte desse catálogo, é uma honra do destino que nunca imaginei. Mas é uma
sensação extraordinária, um orgulho muito grande pertencer à família da
Marcador.
5) Qual o sentimento ao editar
um livro pela Coleção livros RTP?
Uma enorme honra. Nos livros RTP constam nomes
consagrados, como a Célia Loureiro, o Luís Corredoura, a Carla M. Soares, o
Possidónio Cachapa e o Emílio Miranda, entre outros. Fazer parte dessa
colecção, tão importante, é um sentimento de orgulho. Confesso que ainda hoje
me custa a acreditar que um livro meu tenha tido a honra de ser publicitado nos
canais RTP. Mas devo essa honra à Marcador, que acreditou no livro. É à
Marcador que devo tudo.
6) Já alguma vez se deparou
com pessoas a ler o seu livro? Se sim, qual a sensação?
Não, nunca me deparei. O melhor que vi foi pessoas a
desfolhá-lo numa Livraria. Foi um bom momento.
7) Qual o seu autor e livro
favorito, segue o seu género literário?
Acho que tenho de dividir os meus livros favoritos
consoante as diferentes épocas da minha vida. Na infância, gostava da
"Ilha do Tesouro", era o meu livro favorito. Depois, na adolescência,
fui muito influenciado por um livro, o "Pela estrada fora", do Jack
Kerouac. Marcou a alegria e a loucura desses anos. Mais tarde, adorei a
trilogia do "Senhor dos Aneis", pela notável imaginação do Tolkien,
pela beleza da sua escrita e pela beleza do mundo que criou. Depois,
interessei-me pelos clássicos: Tolstoi, Heminghway, Steinbeck, e muitos outros.
Hoje, leio essencialmente autores portugueses: José Luís Peixoto, Valter Hugo
Mãe, João Tordo, etc. Nos últimos tempos, o livro de que mais gostei foi
"O Filho de Mil Homens", do Valter Hugo Mãe. Mas sinto vontade de
regressar aos clássicos e de ler mais poesia.
8) Quando terminou de escrever
o livro, qual o sentimento?
Senti-me aliviado por ter terminado aquele pedaço da
minha vida, aquela angústia. Escrever é um acto muito solitário, que consome a
nossa alma por uns tempos. Como se, durante o tempo em que o escrevemos,
vivêssemos vidas paralelas. Tive mesmo momentos em que, ao falar com a família
e com os amigos, ficava "ausente", e ia para aquele espaço onde a história
se desenrolava. Penso que, quando estamos a escrever um livro, o isolamento é
um reflexo natural.
9) Como vê o momento actual da
Literatura em Portugal?
Creio que, apesar da crise, a Literatura tem vindo a
ganhar adeptos em Portugal. Apercebo-me disso no dia a dia. No entanto, como a
oferta é considerável, o mercado editorial começa a ser pequeno para tamanha
profusão de livros, que surgem todos os dias pelas mais variadas formas. Para o
cidadão comum, não é fácil separar o trigo do joio. Outro aspecto recente, é o
facto de a venda dos livros estar muito centrada nas grandes superfícies
comerciais. Pelo que sabemos, as grandes superfícies são, hoje em dia, os
locais onde se vendem mais livros, em detrimento das Livrarias, que deveriam
ser, por excelência, o lugar onde se devessem adquirir livros. E é isso que nos
deve preocupar: as dificuldades das Livrarias tradicionais, que sempre foram o
baluarte da nossa Literatura. Eu, por exemplo, não imagino a minha vida sem
Livrarias. É lá que os livros deveriam estar. Mas compreendo as leis de
mercado. É um fenómeno global.
10) Como vê a divulgação dos
bloggers literários?
Os Blogues, hoje em dia, são tão ou mais importantes
do que a imprensa escrita. Mormente a imprensa seja fundamental, um jornal ou
uma revista são lidos uma vez e a notícia passa à história. Nos Blogues, pelo
contrário, as notícias, os artigos, as resenhas, as entrevistas, ficam
disponíveis ad eternum, e podem ser consultados dias depois,
semanas depois, meses depois. Por tudo isso, os Blogues de Literatura são uma
extraordinária fonte de informação, uma forma de cultura muito própria. Acima
de tudo, considero notável a dedicação dos Bloguers, dado que são possuidores
de um altruísmo e de um dinamismo que nunca param de me surpreender.
11) Quer deixar alguma
mensagem especial aos seguidores do blog Marcas de Leitura?
Sim, com todo o gosto. Mas, antes de mais, quero
deixar um enorme bem-haja à Manuela Santos, autora deste Blogue, pela sua
simpatia e pelo interesse demonstrado pelo meu livro. Às seguidoras e aos
seguidores do Marcas de Leitura, quero deixar um grande abraço, por todo o amor
que dedicam aos livros e aos seus autores. E talvez este trecho do meu livro:
«No fundo, talvez a vida nos ensine isso, que é preciso ser-se feliz no que
resta do tempo. E que essa é a nossa obrigação, a de tentarmos ser felizes neste
mundo, nem que para isso tenhamos de atravessar as nossas próprias fronteiras,
escolhendo a liberdade de vaguear pelo que resta dos nossos sonhos.» Por isso,
acreditem nos vossos sonhos, na bondade que ainda existe nas vossas vidas. A
melhor forma de chatearmos o mundo é sermos felizes.
Para já fico-me por aqui e agradeço desde já a sua disponibilidade e simpatia, foi um prazer.
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