Luís Corredoura nasceu em 1975, em Pêro Pinheiro, concelho de Sintra. É arquiteto e mestre em Recuperação de Património. Além dos projetos de arquitetura, desenvolve, desde muito novo, projetos literários, «manuscritos» que vai guardando na penumbra da gaveta e no íntimo dos seus pensamentos. Estreia-se como escritor com Nome de Código – Portograal, um romance histórico que ocorre no período da Segunda Guerra Mundial. Lusitano Fado é o seu segundo romance a ver a luz do dia, um livro surpreendente que não conseguirá deixar nenhum leitor indiferente.
O Marcas de Leitura esteve à conversa com Luís Corredoura autor de Nome de Código – Portograal e Lusitano Fado.
Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.
1) Fale-nos um pouco sobre si?
Sobre mim? ... Bom, não sei se há algo de
interessante para falar sobre mim. Vou tentar não ser maçador. Sou o segundo de
seis filhos, sendo o primeiro dos rapazes. Até aos meus três/quatro anos quis
ser pedreiro ou carpinteiro. Depois de várias marteladas nos dedos e de outros
tantos cortes cujas cicatrizes ainda hoje são visíveis, decidi – sei lá eu
porquê!... – ser arquitecto, tendo como principal argumento para esta decisão o
facto de ser mais seguro segurar num lápis que empunhar um martelo. Pelo meio, houve
sempre um insaciável apetite por/pela História. Daí, quiçá, o facto de hoje ser
licenciado em Arquitectura e mestre em Recuperação de Património – para mal dos
meus pecados...
2) Quando começou sua paixão pelos livros e o gosto pela escrita?
Certamente, será exagero dizer desde que nasci!...
No entanto, não foi muito depois disso. Uma das minhas mais remotas recordações
transporta-me até uma época em que, apesar de ainda não saber ler, ficava horas
a fio a olhar para as páginas de uns livros de uma enciclopédia que os meus
pais possuíam, provavelmente devido às ilustrações que continham. Daí à
escrita, foi um pequeno salto.
3) Como concilia a arquitectura com a escrita?
Com alguma dificuldade, mas tudo se arranja.
Durante o dia, trabalho por conta de outrem; à noite, fins-de-semana, feriados
e férias vou fazendo uns quantos (poucos) projectos para pessoas que me
conhecem… e depois, entre uma coisa e outra, vou escrevendo, tentando sempre
não descurar a atenção que há que dar à família.
4) Qual o seu personagem favorito e de onde surgem, imaginação ou
realidade?
Isso é quase como perguntar a um pai qual é o filho
preferido… Não tenho nenhum personagem predilecto, apesar de simpatizar mais
com uns que com outros, independentemente de estes serem os “bons ou os maus da
fita”. Por exemplo: no “Nome de Código Portograal” deu-me imenso gozo imaginar
o Daniel Hughes, o inglês contrabandista que ajuda os Aliados, assim como
também me diverti tanto ou até mesmo mais a “encarnar” Hans Riegl, o austríaco
que, depois de uma infância e adolescência dramática, é recrutado pelas SS.
Quanto à questão de serem fruto da imaginação ou da realidade, creio que são
uma mistura de ambas. Há personagens cujos comportamento e aspecto físico advém
integralmente de um processo criativo, como também há certas figuras que são
nitidamente inspiradas em pessoas que realmente existiram/existem, por muito
inverosímeis que possam ser as respectivas condutas e características
anatómicas.
5) Sendo a Marcador Editora uma grandes editora, como se sente ao ser um
dos seus autores?
Sinto-me satisfeito e feliz com isso. Não estava à
espera de vir a ser “escolhido” p’la Marcador depois de ter andado mais de uma
década “a bater à porta” de outras editoras sem jamais obter uma resposta
positiva. O mais irónico de toda esta “odisseia de teimosia” prende-se com o
facto de nunca alguém me ter dito que aquilo que eu enviava para avaliação ser
indigno de publicação. Não. A resposta padrão era sempre “por motivos de
programação editorial (…), de momento não nos é possível editar a sua obra,
independentemente de ser um trabalho de qualidade (…) etc., etc., etc…”. Ou
seja, nunca recebi uma crítica, fosse essa positiva ou negativa. E, de repente,
quando menos esperava, tenho quatro editoras a querer editar-me. Como podem
imaginar, não foi fácil lidar com isso. No final, acabei por optar por aquela
que me deu a resposta mais rápida, a que me recebeu com maior celeridade e a
que fez questão de editar o livro que eu realmente queria dar a conhecer ao
mundo, fundamentalmente por motivos pessoais e familiares, apesar de ter vários
outros na gaveta.
6) Qual o sentimento ao editar um livro pela Coleção livros RTP?
Estranho… sim, estranho, mas no bom sentido, claro.
Digo isto porque eu conheço a antiga colecção de “livros RTP”. Cresci a ver/ler
a referida colecção, visto esta fazer parte do acervo familiar. Ter o meu nome
associado a algo que sempre esteve na minha memória como um repositório de
algumas das mais importantes obras da literatura universal é algo que ainda hoje
me parece bizarro. No entanto, ao invés da primeira colecção, surgida há mais
de quarenta anos, publicada pela entretanto extinta Editorial Verbo e em que
uma boa parte dos volumes eram obras de autores mais “clássicos” – Camilo,
Balzac, etc. -, a Marcador apostou em ilustres desconhecidos - como eu!... - e
noutros autores portugueses com “nome na praça” e de superior qualidade -
Possidónio Cachapa, Raquel Ochoa, etc. - que merecem ter a devida atenção por
parte do grande público, algo que a RTP e demais meios de comunicação
associados a este grupo proporcionam com a publicidade que fazem.
7) Já alguma vez se deparou com pessoas a ler os seus livros? Se sim,
qual a sensação?
Sim, já sucedeu. Mais uma vez, é estranho.
Primeiro, ainda não me habituei a ver o meu nome nas capas dos livros. Depois,
quando tenho plena consciência disso, há aquela perniciosa tentação de se fazer
passar por um mero curioso e, não me identificando e com uma expressão de quem
não parte um prato, perguntar desinteressadamente à pessoa que está a ler
aquilo que eu escrevi se o conteúdo da obra é válido. Em suma, é estranho.
8) Qual a sensação, ao deslocar-se a uma superfície comercial, e ver os
seus livros à venda?
A resposta a esta questão será deveras semelhante à
dada à pergunta anterior. É uma sensação esquisita, certamente por tudo isto
ainda ser um “admirável mundo novo” para mim.
9) Qual o seu autor e livro favorito, segue o seu género literário?
Há vários autores e vários livros que
marcaram/marcam a minha vida, pelo que será demasiado exaustivo estar a fazer
uma lista pormenorizada, assim como será saturante falar das características de
cada um, das suas peculiaridades, etc.. Posso, no entanto, referir que, em
termos de autores, logo à cabeça surge o Eça, o Fernando Campos, o Antero de
Quental, o Gabriel Garcia Marquez, o Leon Uris, o Amin Maalouf, o Sven Hassel…
Quanto a livros, creio que devia ser obrigatório – obviamente, estou a
brincar!... – haver em cada lar pelo menos uma obra do Eça (“Os Maias” ou “O
crime do padre Amaro”, p. ex.). “A sala das perguntas” e “A esmeralda partida”
do Fernando Campos também são extraordinários. O mesmo sucede com quase todas
as obras do Garcia Marquez, do Amin Maalouf, do Leon Uris (aquele “Exôdus” e
aquele “Mila 18” são, segundo a minha humilde opinião, obras-primas da
literatura universal) e até com os livros do Sven Hassel, onde nos é dada uma
perspectiva diferente da II Guerra Mundial, visto os manuscritos deste autor
terem como principais personagens indivíduos que fazem parte de um batalhão
disciplinar do exército alemão nos últimos anos do conflito, quando já se
percebia que o “III Reich” caminhava para o abismo.
10) Quando termina de escrever um livro, qual o sentimento?
Ressaca. Na verdadeira acepção do termo. E como a
sabedoria popular costuma afirmar que o melhor que há a fazer para curar um mal
desses é beber mais uns copos, eu, neste caso, tento entrar o quanto antes
noutro “projecto literário” para minorar as cefaleias provocadas pelo excesso
de “álcool criativo” no sangue.
11) Como vê o momento actual da Literatura em Portugal?
Creio que está bem, que a literatura e a criação
literária estão a atravessar um bom momento. Julgo que nunca se publicou tanto
como nos dias que vivemos, que nunca se fizeram tantas jornadas, conferências,
“work-shops”, etc., como actualmente. Obviamente, há muito coisa editada que…
bom, digamos que não é muito recomendável. Mas ainda bem que se publica um
pouco de tudo ou, melhor dizendo, muito de tudo. Recordo-me de há uns anos
haver pouco mais que uma meia dúzia de autores portugueses nos escaparates.
Hoje, felizmente, tal já não sucede. Praticamente todas as semanas – isto para
não dizer todos os dias – há um novo autor de língua lusitana no mercado. Isso
só pode ser bom pois vem fomentar a leitura dos nossos criadores, assim como
estimular o consumo de “produto nacional”, sendo que este nada fica a dever em
termos de qualidade ao que é “importado”.
12) Como vê a divulgação dos bloggers literários?
Excelente, desde que feita construtivamente,
independentemente de as críticas ou opiniões sobre determinado tema ou obra
serem positivas ou negativas. No fundo, é mais uma forma de fazer chegar aos
interessados diferentes juízos sobre certas obras, de promover discussões, de
“acicatar” os ânimos habituados à costumeira modorra da rotina.
13) Quer deixar alguma mensagem especial aos seguidores do blog Marcas
de Leitura?
Leiam, leiam até à exaustão e “falem” do que leram,
do que estão a ler, do que querem ler. Quanto mais lerem, mais críticos e
selectivos se tornarão pois terão mais facilidade em distinguir e separar “o
trigo do joio” em todos os aspectos da vida. E, depois, há que dizer em abono
da verdade que pouca coisa dá mais prazer que um bom livro. Pouca coisa,
repito, mas isto é só a minha singela opinião.
Para já fico-me por aqui e agradeço desde já a sua disponibilidade e simpatia, foi um prazer.
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