quinta-feira, 18 de junho de 2015

À Conversa com Lúcia José Gomes autora de Percursos de Insanidade e (Re)Nomeados


Este é o segundo livro da autora, nascida em Aveiro em maio de 1969, licenciada em letras e mestre em ciências da educação, professora do terceiro ciclo e secundário. Para ela escrever é um ato de amor. Amor pelas personagens e pelas suas histórias. 
É um ato de paixão e de verdade. Quando escreve, sente-se mais verdadeira porque viu e ouviu os outros. Sabe que a escrita é a sua vida porque uma vê através da outra.


Estivemos à conversa com Lúcia José Gomes de uma simpatia extrema.

Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.


1)Lúcia fale-nos um pouco sobre si?
Tenho 46 anos, sou professora do terceiro ciclo e secundário, licenciada em línguas, com mestrado em ciências da educação. Sou mãe de dois filhos que muito amo. O que mais prezo na vida é a saúde, simplicidade, honestidade e humildade. Tento sempre aprender algo novo todos os dias para evoluir e ser cada vez melhor quer como profissional, quer como mãe, quer como escritora, em suma, como mulher/ser humano. Ninguém é perfeito, mas todos temos a capacidade da perfetibilidade, basta querermos e empenharmo-nos!

2)  Quando começou sua paixão pelos livros e o gosto pela escrita?
Começou na minha infância, muito rica em vivências e de onde resgato um mundo que já não existe mas que quero dar a conhecer às novas gerações. Tudo começou com um diário, folhas soltas há muito tempo atrás e uma companheira imaginária sem nome de gente. Quotidianamente faço múltiplas anotações e oportunamente uma triagem e esses são os meus deliciosos momentos de refúgio. Para mim a escrita é uma missão, um ato de comunhão com o universo. Escrever é um ato de amor, amor pelas personagens e pelas suas histórias, é também um ato de paz, de gratificação e de reconciliação com todas as partes de mim e de todos os que se cruzam comigo. Eu sinto que vi e ouvi os outros e isso faz-me sentir autêntica, genuína.

3) “Percursos de Insanidade” é o seu segundo livro, como se sente ao editar dois livros em menos de um ano?
Eu diria que é um ato de naturalidade, eu escrevo todos os dias, tenho muitos contos, novelas, textos dispersos, poesias, histórias de todo o tipo. Nem tudo vê a luz do dia, vamos aos poucos, um dia de cada vez. À medida que o tempo passa torno-me cada vez mais exigente comigo mesma.

4) Qual a sensação ao editar os seus livros pela Chiado Editora?
Estou grata por me ter sido dada a oportunidade, em condições muito vantajosas, de divulgar o meu trabalho. Tal como eu, tal como todos nós, a Chiado está a evoluir.

5) Quando termina de escrever um livro, qual o sentimento?
Uma alegria muito especial, uma grande comoção, muito carinho. É mais uma dádiva minha ao universo! E já estou a pensar no próximo…

6) Quer falar-nos um pouco acerca deste seu último livro?
Percursos de Insanidade é um romance, apesar de ter 124 páginas é um romance muito completo e intenso, é aquilo a que eu chamo uma tragicomédia. E porquê? Porque encerra em si o humor: quem não acha hilariantes as partidas que a Maria Teresa prega à mãe? É a sua pequena vingança por viver num mundo de solidão, estigmas e crendice, é uma rebelião muito sua. Por outro lado, coloca-nos perante aspetos mais complexos e de densidade humana, digamos que essa é a parte mais trágica: a rejeição, o medo, o dilema de um sacerdote que tem de escolher entre a vida religiosa e a sedução por uma rapariga, a violência doméstica que um homem, que é alérgico ao trabalho, exerce quer sobre a figura da mãe quer sobre a figura da esposa. Como cai uma jovem nas malhas da violência doméstica? O que faz de um homem um potencial agressor? Deste entrelaçar nasce aquilo que eu apresento como “As personagens de Percursos de Insanidade têm em comum uma espécie de amputação psicológica. Da sinergia que se estabelece entre elas nasce a devastação, mas uma devastação consentida como se procurassem umas nas outras expiar as suas falências.”

7) Qual o seu autor e livro favorito, segue o seu género literário?
É difícil responder a esta pergunta, eles são tantos e de várias nacionalidades! E de todos os continentes! Eu sou uma leitora que se espraia em vários livros ao mesmo tempo! José Saramago, Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto, Agustina Bessa-Luís, José Cardoso Pires, Sophia de Mello Breyner, Miguel Torga, Alexandre Herculano, Antero de Quental, Eça de Queirós, Rubem Fonseca, Luandino Vieira, Ondjaki, Mia Couto, Sándor Márai, Magda Szabó, Lucía Etxebarría, Tolstoi, Dostoiévski, Pearl S. Buck, Philip Roth, Alice Munro, Haruki Murakami (delicioso, cada livro tem sabor a uma melodia, escreve naquilo a que chamo um estilo musicado é como estarmos a assistir a um concerto de jazz)…a lista é imparável…Sem seguir o género literário de nenhum, bebo de todos eles.

8) Já se deparou com pessoas a ler os seus livros? Se sim, qual a sensação?
Sim, um momento fulcral foi quando vi jovens a requisitar o meu livro na biblioteca escolar e a digladiarem-se para ver quem levava primeiro o livro da professora, apesar dos meus livros terem como público-alvo os adultos, cativam igualmente os adolescentes. Chegaram a dar-me sugestões para uma segunda edição que eu imediatamente aceitei. Outro momento que me marcou, e igualmente importante, foi o facto de uma amiga minha, que faleceu há pouco com uma doença oncológica, me dizer que os meus contos a ajudavam a passar melhor os dias. Essa mensagem viverá eternamente no meu coração.

9) Qual a sensação, ao deslocar-se a uma superfície comercial, e ver os seus livros à venda?
Não sou grande frequentadora de superfícies comerciais, ando sempre em contrarrelógio, mas é uma sensação de prazer por ter contribuído com algo para intervir socialmente, é uma sensação de dever cumprido num ato que considero de cidadania.

10) Como vê o momento actual da Literatura em Portugal?
De um lado temos os escritores consagrados que detêm todas as atenções por parte das editoras, do outro os escritores emergentes que em vez de se unirem, olham uns para os outros com alguma desconfiança, não quero generalizar, claro. Em suma não há meio-termo. Por outro lado, acho que são dadas muito mais hipóteses aos novos escritores de mostrarem o que valem do que há uma década atrás porque apesar das grandes editoras lhes fecharem as portas há sempre editoras também emergentes que apostam neles e lhes dão oportunidades, apesar de não ser o suficiente e cada um ter de lutar e trabalhar muito pela sua promoção.

11) Como vê a divulgação dos bloggers literários?
Há blogues para todos os gostos e para todo o tipo de público, há os que abrem as portas aos novos escritores e lhes dão uma oportunidade mostrando visão de futuro e alargando horizontes e há os que são elitistas e olham com algum desdém para os autores emergentes preferindo apenas dar espaço aos autores consagrados.

12) Quer deixar alguma mensagem especial aos seguidores do blog Marcas de Leitura?

Espero ter-vos despertado o interesse em conhecer melhor a minha escrita, que leiam os meus livros, (Re) Nomeados e Percursos de Insanidade, e que partilhem a vossa opinião, pois sem leitores e suas opiniões um livro morre e não devemos condenar um livro à morte, nenhum o merece. Estou muito grata à Manuela por esta oportunidade que me deu de divulgar o meu trabalho!

Eu é que agradeço a sua disponibilidade e simpatia, foi um prazer imenso.

Muito obrigada Lúcia desejo-lhe os maiores sucessos!





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